A relação entre a União Soviética (URSS) e a população judaica nesse período foi marcada por uma complexa transição, evoluindo de um apoio inicial e reconhecimento do Estado de Israel para uma política de antissionismo estatal e antissemitismo burocrático disfarçado, culminando na grande onda de emigração após o enfraquecimento do regime.
I. Pós-Segunda Guerra e Reconhecimento de Israel (1945–1948)
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Libertação: O Exército Vermelho teve um papel fundamental na libertação de campos de concentração, como Auschwitz, e na derrota nazista, salvando milhões de judeus.
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Apoio a Israel (Comentário Objetivo): Inicialmente, a URSS apoiou ativamente a Partilha da Palestina (Resolução 181 da ONU em 1947) e foi um dos primeiros países a reconhecer o Estado de Israel em 1948. A motivação era enfraquecer a influência britânica no Oriente Médio.
II. Recrudescimento e Antissemitismo Estatal (Fim dos anos 1940 – Morte de Stálin)
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Complô dos Médicos (Comentário Objetivo): No final da vida de Stálin, houve uma intensificação da repressão com o chamado “Complô dos Médicos” (1952–1953), onde médicos, em sua maioria judeus, foram falsamente acusados de conspirar para assassinar líderes soviéticos. Este foi um claro exemplo de antissemitismo estatal (ou “burocrático”).
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Antissionismo e Repressão Cultural: O sionismo (movimento de autodeterminação judaica) passou a ser rotulado como “agente do imperialismo ocidental”. Houve dissolução de organizações culturais judaicas, repressão a intelectuais judeus e a proibição da publicação de livros e da prática de manifestações culturais judaicas.
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Oblast Autônomo Judaico: A região de Birobidzhan, criada nos anos 1930 para ser o “lar” dos judeus soviéticos, continuou existindo, mas com uma presença judaica minoritária e sob forte controle ideológico.
III. Política Pós-Stálin e “Refuseniks” (1953–1985)
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Mudança de Postura em Israel (Comentário Objetivo): Após a Guerra dos Seis Dias (1967), a URSS rompeu relações diplomáticas com Israel e se tornou firmemente pró-árabe, reforçando o antissionismo em sua propaganda.
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Os Refuseniks (Comentário Objetivo): Milhares de judeus soviéticos pediram para emigrar, principalmente para Israel (fazer Aliá), mas tiveram seus pedidos negados pelas autoridades. Eles ficaram conhecidos como Refuseniks (do inglês, refuse – recusar), tornando-se um símbolo internacional de dissidência.
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Pressão Externa: A situação dos Refuseniks se tornou um ponto de atrito diplomático entre a URSS e o Ocidente, influenciando, por exemplo, a Emenda Jackson–Vanik (EUA, 1974), que ligava o comércio favorável com a URSS à garantia da liberdade de emigração.
IV. Perestroika e Queda do Muro de Berlim (1985–1989)
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Abertura e Flexibilização (Comentário Objetivo): Com as políticas de Glasnost (abertura) e Perestroika (reestruturação) de Mikhail Gorbachev, as restrições à emigração foram sendo gradualmente flexibilizadas a partir de 1987.
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O Êxodo: A queda do Muro de Berlim em 1989, e o iminente colapso da URSS, levou à abertura total das fronteiras, desencadeando um êxodo maciço de judeus soviéticos para Israel e outros países. Cerca de um milhão de judeus da ex-URSS emigraram para Israel nas décadas seguintes.
A discussão detalhada sobre o antissemitismo de Josef Stalin, incluindo o apoio inicial à criação de Israel e a perseguição posterior, está explorada no vídeo O antissemitismo de Josef Stalin e o apoio da URSS à criação do Estado de Israel – Profa Clemesha.
