“Como Mark R. Levin distorce o pensamento de Karl Marx, exagera a influência do socialismo nos EUA e constrói uma narrativa alarmista sem base na realidade histórica”
Mark R. Levin, um comentarista conservador conhecido por suas críticas ao progressismo e ao socialismo, em seu livro Marxismo Americano, faz uma série de alegações polêmicas que têm sido contestadas por historiadores, cientistas políticos e estudiosos do marxismo.
Abaixo estão algumas das principais críticas ao livro, destacando seus erros históricos, distorções e atribuições equivocadas:
1. Equiparação do Partido Democrata ao Marxismo
Levin argumenta que o Partido Democrata dos EUA está se tornando “marxista”, uma afirmação amplamente exagerada e ahistórica.
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Crítica: O Partido Democrata, mesmo em sua ala mais progressista (como Bernie Sanders ou AOC), não defende a abolição da propriedade privada, a ditadura do proletariado ou a revolução socialista — elementos centrais do marxismo clássico.
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A social-democracia (como políticas de bem-estar social) não é o mesmo que marxismo revolucionário.
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O próprio Marx via os EUA como um país onde a revolução socialista seria improvável devido à falta de uma classe trabalhadora radicalizada como na Europa.
2. Distorções sobre Karl Marx e sua Filosofia
Mark Levin frequentemente simplifica ou deturpa as ideias de Marx para encaixá-las em sua narrativa alarmista.
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Crítica:
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Marx não defendia um “governo autoritário enorme” como Levin sugere; ele acreditava no “definhamento do Estado” sob o comunismo.
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A visão de Marx sobre a luta de classes era analítica, não um manual para a tomada de poder nos EUA.
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Levin ignora as diferenças entre marxismo, socialismo democrático e social-democracia, tratando todos como a mesma coisa.
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3. Erros Históricos sobre o Socialismo nos EUA
O livro sugere que os EUA estão a caminho do socialismo, ignorando o contexto histórico.
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Crítica:
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Os EUA nunca tiveram um movimento socialista forte (ao contrário da Europa), e partidos marxistas sempre foram marginais.
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Políticas como o New Deal de FDR ou o Great Society de LBJ foram reformas capitalistas, não socialistas.
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A esquerda americana atual (mesmo seus setores mais radicais) não busca abolir o capitalismo, mas reformá-lo.
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4. Teorias da Conspiração e Reductio ad Hitlerum
Levin frequentemente associa a esquerda moderna ao totalitarismo, comparando-a com a URSS ou a China.
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Crítica:
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A maioria dos progressistas americanos rejeita o modelo soviético.
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Muitas políticas progressistas (como saúde universal) existem em democracias capitalistas (Canadá, Alemanha) sem levar ao autoritarismo.
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Levin ignora que a direita americana (como o McCarthyism) já acusou qualquer reforma social de “comunista”.
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5. Falta de Rigor Acadêmico e Uso de Fontes Tendenciosas
O livro é mais um manifesto ideológico do que uma análise histórica séria.
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Crítica:
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Levin cita think tanks conservadores e autores polemistas, mas ignora estudiosos acadêmicos de Marx.
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Ele não diferencia entre marxismo teórico e regimes autoritários que se autointitularam “marxistas”.
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Conclusão
Marxismo Americano é uma obra de propaganda política, não um estudo sério sobre Marx ou a esquerda americana. Seu objetivo parece ser assustar conservadores com um espantalho do “marxismo” que pouco tem a ver com a realidade política dos EUA. Enquanto a esquerda americana tem suas próprias contradições, equipará-la ao marxismo revolucionário é uma distorção grosseira da história e da teoria política.
Se você busca uma análise equilibrada do marxismo e sua influência nos EUA, obras como Marx no Séc. XXI ou The Socialist Awakening de John B. Judis oferecem perspectivas mais bem fundamentadas.
Glossário:
“Ahistórico” significa algo que não tem relação com a história, que é alheio ao desenvolvimento histórico ou que não se baseia em eventos históricos. Pode referir-se a algo que não é considerado histórico, que é contrário à história ou que ignora o contexto histórico.