Com 98,39% das urnas apuradas, ele obtinha 64% dos votos válidos contra 36% do atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos)
O ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), 51, venceu neste domingo (30) a disputa pela Prefeitura do Rio de Janeiro e volta a comandar a cidade que governou entre 2009 e 2016. Com 98,39% das urnas apuradas, ele obtinha 64% dos votos válidos contra 36% do atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos).
Paes vai assumir em 1º de janeiro de 2021 o município numa situação distinta do que administrou por oito anos, atualmente com baixa capacidade de investimento e sem uma Olimpíada para justificar o repasse volumoso de recursos federais.
O cenário fez com que o prefeito eleito vencesse tendo como principal mote de campanha melhorar a prestação de serviços, principalmente na saúde e transporte.
O ex-prefeito buscou ao longo da disputa contrapor sua gestão à de Crivella, mal avaliado pelos eleitores cariocas. O atual mandatário tentou apresentar a falta de recursos como razão para as falhas que apresentou nos últimos quatro anos, mas não convenceu a maioria dos eleitores.
A rejeição ao atual prefeito foi um dos principais fatores que levaram ao resultado das urnas. Paes acumulou “apoio crítico” da maior parte dos partidos derrotados no primeiro turno e era a opção da maioria dos eleitores dos postulantes que ficaram no primeiro turno, apontam as pesquisas de intenção de voto.
O movimento se deveu tanto à rejeição a Crivella como ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que o apoiou, sem sucesso. A derrota do atual prefeito é mais um mau resultado dos aliados do presidente, tendência já verificada no primeiro turno.
Crivella deixa a prefeitura no fim do ano ficando pela primeira vez desde 2003 sem mandato -até 2016, ele foi senador. Após três tentativas frustradas para chegar à prefeitura e duas ao governo do estado sob o peso da rejeição à Igreja Universal, o bispo licenciado deixa o cargo com uma imagem de mau gestor.
Paes, por sua vez, vence a disputa após duas derrotas políticas consecutivas depois de organizar os Jogos Olímpicos de 2016 e chegar a ser cotado como presidenciável.
Em 2016, seu candidato, o deputado Pedro Paulo (DEM), sequer chegou ao segundo turno na disputa pela sua sucessão, vencida por Crivella. Há dois anos, perdeu a eleição ao governo do estado para Wilson Witzel (PSC), atualmente afastado do cargo.
A vitória de Paes solidifica o crescimento do DEM nas eleições municipais e se torna a principal capital administrada pelo partido no país. O segundo maior colégio eleitoral do país dá ainda mais força à sigla nas articulações da disputa presidencial de 2022.
É a quarta vez que um nome do partido vai administrar a cidade, considerando os três mandatos de César Maia -eleito duas vezes por outros partidos, mas que foi para o antigo PFL no curso da gestão- e Luiz Paulo Conde.
Paes também superou nesta campanha as acusações de corrupção de que é alvo na Justiça, explorada por Crivella em sua campanha.
“Olha quantas pessoas foram presas desde 2014 [início da Lava Jato]. Eu estou aqui. Só estou disputando com você porque sou Ficha Limpa”, disse o prefeito eleito a Crivella no debate de TV Bandeirantes.
Visto como uma espécie de sobrevivente político do antigo MDB-RJ, cujas principais lideranças foram presas, Paes passou a enfrentar neste ano uma situação jurídica mais delicada do que antes.
Ele se tornou neste ano réu em duas ações penais sob acusação de corrupção nas Justiça Eleitoral e Federal. Nenhuma das duas descreve de forma clara pagamento de propina, mas aponta supostos benefícios dados em sua gestão no município a empreiteiras que repassaram recursos via caixa dois para suas campanhas eleitorais do passado.
O Ministério Público Federal, porém, ainda investiga o destino de cinco depósitos feitos no exterior que somam US$ 5,75 milhões pela Odebrecht em 2012. Executivos da empreiteira afirmam se tratar de caixa dois eleitoral, mas os investigadores não identificaram o uso desse dinheiro na campanha.
Paes também foi eleito graças a uma liminar que suspendeu os efeito de uma condenação eleitoral de 2018 que impedia sua candidatura pela Lei da Ficha Limpa. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ainda não tem data para julgar o mérito do caso.
Ao obter o terceiro mandato não consecutivo na prefeitura carioca, o prefeito eleito repete a trajetória de seu primeiro padrinho político, o vereador César Maia (DEM), de quem se reaproximou.
Paes iniciou sua carreira política com Maia em 1993, como subprefeito de Jacarepaguá. Os dois se afastaram em 2003, quando o então deputado federal rompeu com Maia e se transferiu para o PSDB.
Quatro anos depois, ele se aproximou do ex-governador Sérgio Cabral e foi para o MDB. Em 2008, foi eleito para seu primeiro mandato no Rio de Janeiro contando também com o apoio do ex-presidente Lula, a quem havia chamado de “chefe de quadrilha” durante a CPI do Mensalão da qual foi relator.
Cabral e o MDB foram abandonados após a Operação Calicute, em novembro de 2016, quando o ex-governador foi preso. Paes retornou ao DEM de César Maia em 2018, a quem voltou a fazer elogios.
Com uma carreira marcada pelas mudanças de partidos e de padrinhos políticos, o prefeito eleito evitou nacionalizar a disputa e apontar seus aliados na campanha. Buscou apostar na comparação entre as suas duas gestões no município com de Crivella.
O segundo mandato de Paes teve uma taxa de investimentos sempre acima de 13%, impulsionado pelas obras olímpicas financiadas por recursos federais e empréstimos de bancos públicos.
Crivella, por sua vez, não conseguiu ultrapassar uma taxa de 3% em investimentos, em razão de uma receita comprometida pela crise econômica e despesas com amortização de dívidas.
O prefeito eleito, ao longo da campanha, afirmou que seu sucessor não soube gerir o município para enfrentar as dificuldades financeiras. Em razão disso, adotou como mote de campanha melhorar os serviços públicos, sem promessas de novas grandes obras.
O orçamento previsto para o ano que vem prevê uma taxa de investimento de 2,2% para despesas estimadas em R$ 32,4 bilhões.
Fonte: Notícias ao Minuto