Eleições 2018: os desafios de Bolsonaro e Haddad na batalha pelo voto do Nordeste, alvo de discursos de ódio

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O avanço do candidato Jair Bolsonaro (PSL) na eleição de domingo foi contido, sobretudo, pelo voto da região Nordeste, onde o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad (PT) superou o adversário em todos os 9 Estados.

O resultado, que repete o desempenho petista no Nordeste em eleições presidenciais anteriores, voltou a alimentar discursos de ódio nas redes sociais. Ao mesmo tempo, já há indicativos, das campanhas dos dois candidatos, que a região será um importante palco da disputa de votos no segundo turno.

Para além de ideias pré-concebidas, o que explica o voto em peso do Nordeste em candidatos do PT? E como isso pode ou não mudar no segundo turno?

Primeiro, vamos aos números: dos 49 milhões de votos em Bolsonaro, 68% vieram de eleitores do Sul e Sudeste, e apenas 15% vieram do Nordeste.

Haddad, por sua vez, perdeu em todo o país, com exceção do Pará e de oito Estados do Nordeste – de onde vieram 46% de seus votos –, embora sua votação na região tenha sido inferior à registrada por Lula e Dilma Rousseff nas eleições anteriores e de, no Ceará, ele ter sido superado por Ciro Gomes (PDT) no último domingo.

Em artigo no Observatório das Eleições, o cientista político Jairo Nicolau explica que, no início dos anos 2000, não se viam as regiões brasileiras como redutos eleitorais. Isso mudou, diz ele, com a eleição de 2006, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conquistou no primeiro turno 60% dos votos dos eleitores nordestinos – o maior percentual alcançado na história dos pleitos presidenciais por um candidato em uma determinada região.

E, desde então, “foram seis turnos de vitórias avassaladoras” petistas no Nordeste, aponta Nicolau.

Em 2010, após Dilma Rousseff vencer a eleição nos nove Estados nordestinos, ficou famoso o caso da estudante que postou no Twitter que “nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado” (dois anos mais tarde, ela seria condenada à prisão por discriminação ou preconceito, pena que foi convertida em prestação de serviço comunitário e pagamento de multa).

Neste domingo, amostras de discurso semelhante pipocaram nas redes sociais, com a retórica de que o voto dos eleitores da região é dado “sem pensar” e “só por causa do Bolsa Família, porque ninguém quer trabalhar”.

Em reação, eleitores contrários a Bolsonaro que vivem em outras áreas do país têm agradecido ao Nordeste pelo segundo turno.

O que pode mudar no segundo turno?

Agora, como as forças em jogo podem se realinhar no segundo turno, quando o voto nordestino será fortemente disputado?

Para Sérgio Praça, professor e pesquisador da Escola de Ciências Sociais da FGV-RJ, no que diz respeito ao Nordeste, a grande questão é para onde migrarão os votos de Ciro Gomes.

No restante do país, a tentativa de Haddad será buscar o centro, mas com o grande obstáculo de ter tido 18 milhões de votos a menos que o adversário no primeiro turno.

Barreto lembra que, mesmo tendo perdido para Haddad, Bolsonaro teve expressivos 7,5 milhões de votos no Nordeste – e pode capitalizar em cima de sua defesa de “valores familiares” e de um discurso mais duro na questão da segurança pública.

“É importante destacar que a população de baixa renda não raro é mais conservadora no campo dos valores. Por fim, o Bolsonaro cresce nas capitais por causa do problema epidêmico da violência, e o PT não tem uma agenda forte na segurança pública”, opina.

Ao mesmo tempo, para Haddad o desafio é expandir seu eleitorado para além do Nordeste e modular seu discurso para atrair o eleitor do centro-sul do país. Barreto opina, porém, que para os votantes centro-sulistas, a estratégia de mostrar-se como sucessor de Lula “acaba fragilizando Haddad”.

Fontes: g1

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