As histórias das denominações Batista e Presbiteriana espelham, e em alguns casos até intensificam, o dilema da escravidão nos Estados Unidos, culminando em divisões dramáticas.
Vamos analisar como essas duas grandes famílias protestantes lidaram com o tema:
A Divisão na Família Batista
Os Batistas eram uma das denominações que mais cresciam nos EUA antes da Guerra Civil (Guerra de Secessão), especialmente no Sul, o que tornou seu dilema sobre a escravidão particularmente agudo e politicamente carregado.
| Denominação | Posição sobre a Escravidão | Desdobramento |
| Batistas do Norte | Postura abolicionista ou antiescravidão moderada. | Queriam que os fundos missionários nacionais não fossem usados para apoiar missionários que possuíam escravos. |
| Batistas do Sul | Fortemente defensores da escravidão, citando passagens bíblicas para justificá-la. | Indignados com a recusa do Norte em nomear missionários que possuíam escravos. |
| Resultado | Cisma em 1845. A Convenção Batista do Sul (Southern Baptist Convention – SBC) foi formada, formalizando a ruptura com a Convenção Geral Batista. | A SBC foi fundada explicitamente para apoiar e defender o direito de seus membros e líderes de possuírem escravos e de serem missionários. Por muitos anos, defendeu a ideologia racista da “Causa Perdida” do Sul. |
| Legado e Arrependimento | A Convenção Batista do Sul só em 1995 emitiu um pedido de desculpas oficial por sua história de apoio à escravidão e ao racismo. | Muitos missionários batistas que vieram fundar a igreja no Brasil no final do século XIX vieram desse contexto da Convenção Batista do Sul e de famílias que defendiam o sistema escravagista. |
🏛️ A Divisão na Família Presbiteriana
Os Presbiterianos, com suas raízes na tradição reformada e um corpo de liderança mais influente academicamente (muitos ligados a Princeton, como Edwards Jr.), tiveram um debate igualmente acirrado, embora ligeiramente anterior.
| Denominação | Posição sobre a Escravidão | Desdobramento |
| Igreja Presbiteriana (Velha Conexão) | Geralmente mais conservadora em teologia e mais disposta a tolerar a escravidão para manter a unidade e o crescimento no Sul. | Argumentavam que a abolição era uma questão civil/política e não estritamente eclesiástica, evitando a confrontação. |
| Igreja Presbiteriana (Nova Conexão) | Mais liberal em teologia e mais inclinada ao abolicionismo. | Mais aberta à participação em movimentos sociais, como o abolicionismo, o que gerou conflito com os conservadores do Sul. |
| Resultado | Divisões e Cisões. Embora houvesse uma divisão principal em 1837 sobre teologia (Old School vs. New School), a questão da escravidão foi o principal catalisador para a cisão definitiva: a Igreja Presbiteriana no Estados Unidos (Sul) se separou da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América (Norte) em 1861, coincidindo com a Guerra Civil. | A igreja do Sul, tal como a Batista e a Metodista do Sul, formou-se para consagrar o direito à posse de escravos, defendendo-o biblicamente. |
💡 Ponto Comum entre as Denominações
O padrão é claro: em todas as três principais denominações evangélicas (Metodista, Batista e Presbiteriana) que se expandiram nos EUA, a escravidão levou a uma divisão Norte-Sul (Cisma de 1844/45/61).
- As igrejas do Norte (Metodista Episcopal, Convenção Geral Batista, Presbiteriana EUA) tornaram-se o pilar do movimento abolicionista.
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As igrejas do Sul (Metodista Episcopal do Sul, Convenção Batista do Sul, Presbiteriana nos EUA) usaram a Bíblia e a teologia para defender a escravidão como uma instituição sancionada por Deus e mantiveram essa postura durante a Guerra Civil.