O vice-presidente Hamilton Mourão disse, em entrevista ao jornal alemão Deutsche Welle, que o coronel Brilhante Ustra condenado por tortura no período da ditadura militar, “respeitava os direitos humanos de seus subordinados” e foi um militar de “honra”.
Ustra é acusado de ter perseguido políticos e familiares de vítimas do regime militar e de ser responsável por torturas e mortes de opositores do golpe de 1964. Ele é o único militar brasileiro acusado por tortura na Justiça.
Conhecido como “Dr. Tibiriçá” nos porões da ditadura, ele é acusado pelo Dossiê Ditadura, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, de ter relação com 60 casos de mortes e desaparecimentos em São Paulo. A Arquidiocese de São Paulo, por meio do projeto Brasil Nunca Mais, denunciou mais de 500 casos de tortura cometidos dentro das dependências do Doi-Codi no período em que Ustra era o comandante, de 1970 a 1974.
“O que posso dizer sobre o homem Carlos Alberto Brilhante Ustra, ele foi meu comandante no final dos anos 70 do século passado, e era um homem de honra e um homem que respeitava os direitos humanos de seus subordinados. Então, muitas das coisas que as pessoas falam dele, eu posso te contar, porque eu tinha uma amizade muito próxima com esse homem, isso não é verdade”, disse em defesa de Ustra.
De acordo com Mourão, as pessoas que lutaram contra as guerrilhas urbanas nos anos de 60 e 70 de foram “injustamente acusadas de serem torturadoras”. O vice-presidente também afirmou que a tortura não é uma prática que o governo brasileiro concorda ou “simpatize”.
“Em primeiro lugar, não estou alinhado com a tortura, e, claro, muitas pessoas ainda estão vivas daquela época, e todas querem colocar as coisas da maneira que viram. É por isso que eu disse antes que temos que esperar que todos esses atores desapareçam para que a história faça sua parte. E, claro, o que realmente aconteceu durante esse período … esse período passou”, disse.
Ainda em defesa dos militares, Mourão disse que eles “fizeram coisas muito boas pelo Brasil e outras coisas não foram tão bem”. Para ele, “a história só pode ser julgada com o passar do tempo”.
“Ainda estamos há cerca de 50 anos desse período. Precisamos de mais 50 anos para que esse período seja bem avaliado”, defendeu.
Democracia
Questionado sobre o compromisso do governo de Jair Bolsonaro com a democracia, Mourão disse que o objetivo do governo é “fazer do Brasil a democracia mais brilhante do hemisfério Sul” e defendeu que não “existe uma palavra do presidente Bolsonaro que tenha sido uma ameaça real a democracia no Brasil”.
Indagado sobre o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro em relação ao Supremo Tribunal Federal (STF) após a Corte autorizar operação da Polícia Federal contra aliados do presidente, no âmbito do inquérito das fake news, em que o presidente afirmou que as Forças Armadas “não cumprem ordens absurdas”. Mourão disse que não se tratava de uma ameaça.
“As Forças Armadas estão alinhadas com sua missão constitucional, e não estão saindo dela. As coisas aqui no Brasil estão tranquilas e indo bem. E deixo bem claro que a democracia é um valor não só para o governo Bolsonaro, mas também para as nossas Forças Armadas. Então não existe nenhuma ameaça ao STF ou ao sistema Legislativo aqui no Brasil”, afirmou.
Assista ao vídeo da entrevista.
Fonte: Congresso em foco