O conceito filosófico do demiurgo ressurge como meme, representando a prisão no mundo material e a crítica a sistemas opressores.
A viralização do meme reflete um sentimento contemporâneo de insatisfação com o capitalismo e a modernidade, expressando pessimismo e autodepreciação.
Em novembro de 2025, o conceito filosófico do demiurgo, originado no século 4 a.C. na obra de Platão, tornou-se um fenômeno de internet popular em plataformas como TikTok e Instagram.
A figura, descrita com cabeça de leão e corpo de cobra, aparece em vídeos e ilustrações que misturam humor nonsense, frases filosóficas e música melancólica, frequentemente contracenando com memes populares como Luva de Pedreiro e Davi Brito, do BBB.
Originalmente, no diálogo ‘Timeu’, o demiurgo é um artesão cósmico que organiza o caos material inspirado no mundo das Ideias, buscando tornar a realidade a mais bela e racional possível. Já no gnosticismo dos séculos 2 e 4 d.C., reinterpretado em textos como o Apócrifo de João, o demiurgo (Yaldabaoth) é visto como um ser ignorante que aprisiona as almas humanas em um mundo corrupto, distanciando-as da divindade verdadeira.
A partir da década de 2010, comunidades online como 4chan e Reddit ressignificaram o demiurgo como metáfora para sistemas opressores e realidade manipulada, associando-o à metáfora das ‘pílulas’ do filme Matrix. A ‘green pill’ simboliza o despertar filosófico e espiritual, em contraste com a ‘red pill’ da ‘machosfera’, e representa a busca pela gnose como libertação do mundo controlado pelo demiurgo.
A viralização do meme é criticada por Marcus Bonassi, do Instituto Gnosis Brasil, que afirma que o demiurgo não deve ser antropomorfizado, pois representa uma força cósmica de criação — equivalente às tríades pai-filho-Espírito Santo, Brahma-Vishnu-Shiva ou próton-elétron-nêutron. Ele lamenta que a apropriação na internet deturpe o conceito original, usado como peça retórica em subculturas digitais.
Luciane Belin, pesquisadora da UFRJ, interpreta o meme como uma expressão contemporânea do sentimento de estar ‘preso nesse mundo horrível’, refletindo críticas ao capitalismo e à modernidade. Embora ainda restrito, o fenômeno está ligado a conteúdos pessimistas e de autodepreciação, capturando um clima social mais amplo que vai além da ‘machosfera‘, evidenciando uma reapropriação simbólica de ideias antigas em contextos digitais.
Fonte: Syft AI
