Os desdobramentos sobre o abolicionismo, especialmente na família Edwards e no Metodismo Americano, são cruciais para entender as complexidades morais da época.
O filho de Jonathan Edwards, Jonathan Edwards Jr. (1745–1801), tornou-se uma das vozes mais proeminentes contra a escravidão na Nova Inglaterra, o que representa um claro contraste moral com as ações e a teologia de seu pai.
* Rompimento com o Pai: Edwards Jr. rompeu publicamente com a aceitação da escravidão que era comum em sua família e em grande parte da sociedade colonial.
* Argumento Teológico e Moral: Ele se baseou na teologia de seu pai, ironicamente, para sustentar sua posição abolicionista. Argumentava que o Evangelho de Cristo buscava a liberdade e que a escravidão era um “pecado cruel” e uma prática “injusta e impolítica” (ou seja, má política).
* Ativismo: Ele não apenas criticou a prática, mas também advogou ativamente por uma maior integração dos negros na sociedade.
* Influência: Como teólogo e mais tarde como Presidente do College of New Jersey (atual Princeton University), ele usou sua posição para influenciar a opinião pública, sendo fundamental na transição da teologia reformada de apoio à escravidão para o abolicionismo.
Em essência, Jonathan Edwards Jr. pegou o sistema teológico que seu pai ajudou a estabelecer e o aplicou de forma radicalmente diferente, usando-o para condenar a escravidão.
⛪ Metodismo e a Escravidão nos Estados Unidos
A história do Metodismo nos EUA é um exemplo clássico de como a instituição da escravidão gerou grandes conflitos e divisões dentro das denominações religiosas americanas.
1. Início Antiescravidão
* Fundação Forte: A Igreja Metodista Episcopal, fundada formalmente em 1784 nos EUA, herdou a postura antiescravidão de John Wesley (que condenou a prática como “o grande mal nacional”).
* Regras Iniciais: As regras originais da igreja eram fortemente contrárias à posse de escravos, chegando a exigir que os membros libertassem as pessoas escravizadas.
2. O Crescimento e o Comprometimento
* Expansão: O Metodismo cresceu rapidamente no país, espalhando-se para o Oeste e, crucialmente, para o Sul.
* Pressão do Sul: Para não perder membros e crescimento na região sul, onde a escravidão era o alicerce econômico e social, a denominação começou a enfraquecer suas regras antiescravidão. A proibição tornou-se branda, e a prática da escravidão por membros e até mesmo por líderes se tornou comum.
3. O Grande Cisma (1844)
* A Divisão: A tensão sobre a escravidão atingiu seu ápice. Em 1844, a Igreja Metodista Episcopal se dividiu em duas denominações separadas:
* Igreja Metodista Episcopal (Norte): Manteve uma postura (mais) antiescravidão.
* Igreja Metodista Episcopal do Sul (Sul): Formada para permitir e defender a posse de escravos por seus membros e bispos.
Essa divisão foi um prenúncio da Guerra Civil Americana (1861-1865) e ilustrou o profundo racha da nação. As igrejas só se reunificaram mais de 90 anos depois.
4. O Metodismo Afro-Americano
* Igreja Episcopal Metodista Africana (AME): A segregação e o tratamento desigual dentro da Igreja Metodista Episcopal levaram metodistas negros a se separarem e a fundarem suas próprias denominações.
* Richard Allen, um ex-escravo, fundou a Igreja Episcopal Metodista Africana (AME) em 1816, tornando-a uma das primeiras e mais influentes denominações protestantes independentes formadas por negros nos EUA, e um pilar do ativismo e da comunidade afro-americana.