Veja o que pode mudar na relação do Brasil com os EUA com Biden presidente

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Veja o que pode mudar na relação do Brasil com os EUA com Biden presidente

Por Lucas Vidigal, G1

 


Joe Biden durante evento de campanha em Pittsburgh no dia 2 de novembro — Foto: Andrew Harnik/AP Photo

Joe Biden durante evento de campanha em Pittsburgh no dia 2 de novembro — Foto: Andrew Harnik/AP Photo

O futuro das relações entre Brasil e Estados Unidos com Joe Biden na Casa Branca depende da capacidade do governo brasileiro de abandonar o apoio personalista a Donald Trump e adotar uma postura pragmática com o novo presidente americano, segundo especialistas ouvidos pelo G1 sobre o que muda entre Brasília e Washington a partir de agora.

“Vai depender do grau de pragmatismo que o Brasil vai apresentar em relação a Biden. Caso o governo sinalize que o aliado são os EUA, e não Trump, as relações podem se encaminhar bem”, analisa Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Desde o começo da campanha presidencial nos EUA, o presidente Jair Bolsonaro não escondeu a torcida pela reeleição de Trump, quem ele diz considerar um amigo.

O brasileiro também demonstrou publicamente irritação com as declarações de Biden sobre impor “consequências econômicas” ao Brasil caso o país não pare de “derrubar a floresta”. A fala do democrata foi interpretada pelo Planalto e por aliados bolsonaristas como um ataque à soberania.

Aperto de mãos entre Bolsonaro e Donald Trump — Foto: Reuters/Tom Brenner

Aperto de mãos entre Bolsonaro e Donald Trump — Foto: Reuters/Tom Brenner

Para o professor de relações internacionais Juliano Cortinhas, da Universidade de Brasília (UnB), o alinhamento automático do governo brasileiro à pessoa de Trump não foi benéfico e coloca o Brasil sob risco de isolamento.

“Individualizar política externa é um erro imenso, e isso certamente isola o Brasil com a vitória de Biden”, critica.

Na visão de Carlos Gustavo Poggio, doutor em relações internacionais e professor da Faap, divergências entre Bolsonaro e Biden não necessariamente vão se traduzir em uma relação ruim entre Brasília e Washington. Para ele, o governo brasileiro deve caminhar rumo a uma via pragmática.

“É difícil fazer qualquer previsão. A gente pode esperar, porém, que o Brasil faça uma política mais pragmática. Na política interna já vemos essa mudança”, analisa.

 

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Veja abaixo o que muda e o que deve ficar igual na relação entre Brasil e EUA com Biden na Casa Branca:

O que tende a mudar

  • Meio ambiente

Biden deve se unir a outros países, especialmente os da União Europeia, para pressionar governos a reduzir emissões de carbono e aumentar a preservação. Se o desmatamento e as queimadas nos ecossistemas brasileiros piorarem, os EUA podem fazer coro às pressões sobre o Planalto.

No entanto, para o professor Juliano Cortinhas, da UnB, a aplicação de medidas econômicas, como sanções, é difícil de ir adiante porque envolve uma série de negociações internas. Ele não descarta, porém, que a Casa Branca e o Congresso decidam adotar esse tipo de pressão sobre o Brasil.

“A aplicação de sanções não é algo automático, mas é mais possível que elas venham com Biden do que com Trump”, avalia Cortinhas.

  • Direitos humanos

Com a mudança na Casa Branca, sai uma abordagem mais conservadora por parte dos EUA, como a defesa do direito à vida desde a concepção, e ganham força questões relativas aos direitos da mulher e de minorias.

Assim, devem ficar mais raros gestos como a assinatura do documento conhecido como Declaração de Genebra, assinado pelo Brasil e por países como Hungria e Egito. Entre outras coisas, o documento repudia o aborto.

Também deve haver maior pressão dos EUA sobre a qualidade das democracias no mundo. Biden já disse que quer se encontrar com líderes de outros países na Conferência pela Democracia. Nesse encontro proposto, as lideranças devem debater temas como combate à corrupção e ao autoritarismo.

Quando era vice-presidente, Biden entregou, em 2014, à então presidente Dilma Rousseff uma série de documentos sobre a ditadura militar brasileira, com relatórios americanos sobre censura, tortura e assassinatos.

Na avaliação de Carlos Gustavo Poggio, da Faap, esses fatores podem significar um ponto de pressão sobre o Brasil, dependendo do quão positivas ou negativas estiverem as relações com os EUA.

“Os EUA só assinariam um acordo novo com o Brasil se houvesse mudanças na questão de direitos humanos”, afirma Poggio.

  • Covid-19

Caso a pandemia continue nos próximos meses com a mesma gravidade, o presidente eleito deve adotar medidas nacionais de restrições, inclusive a obrigatoriedade do uso da máscara. Isso aumentará a pressão internacional para que o Brasil reforce as políticas de combate ao coronavírus.

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