A tornozeleira com marcas de queimadura, segundo o advogado de Jair Bolsonaro, Paulo Amador da Cunha Bueno, não passa de narrativa. “Essa questão de tornozeleira é uma narrativa que tenta justificar o injustificável.” Pelo visto, as imagens e a narrativa de Bolsonaro, quando inquirido, confirmando para a diretora-adjunta do Centro Integrado de Monitoração Eletrônica, Rita Gaio, que tentou romper o aparelho de rastreamento com ferro de solda, não convenceram o advogado da realidade.
O centro que monitora Bolsonaro desde 18 de julho informou que o sistema gerou alerta, “indicando violação”. O aviso ocorreu à 0h07 do sábado VINTE E DOIS (22). Compreendo a defesa do ex-presidente, que faz o seu trabalho e cria uma narrativa alheia à realidade. Compreendo o próprio Bolsonaro, que agora usa justificativas medicamentosas (ele estava grogue, malucão) no momento do ato, e compreendo Alexandre de Moraes, que no dia 22 é comunicado pela PF e no dia 22 decreta prisão preventiva.
Quem trouxe o 22 para a história foram os atos de Bolsonaro, que tem um curso de Eletricidade, feito por correspondência, e outro de conserto de máquinas de lavar e geladeira (que lhe daria certa expertise para soldar), e não ato irônico de Moraes. Até porque quem tentou romper a tornozeleira por “curiosidade” no dia 22 foi Bolsonaro e não o ministro, e o ministro fez o que lhe competia. Ah, Bolsonaro não desejava fugir porque a casa era monitorada! A tornozeleira também era.
Um pouco de história: John Anglin, Clarence Anglin e Frank Morris se arriscaram para fugir na noite de 11 de junho de 1962 do presídio de Alcatraz. Prisão fortificada, impossível de escapar, em tese. Bom, o episódio é um mistério até hoje. O FBI encerrou a investigação em 1979, presumindo que eles se afogaram nas águas geladas da Baía de São Francisco, apesar de o corpo deles nunca ter sido encontrado. Entenderam? A tese da “curiosidade”, a tese da “monitoração pela PF”, a tese do cerco da propriedade não anula plano ou tentativa de fuga, a não ser que, por curiosidade, por brincadeira, por coisa de menino maroto, se tente fugir.
