Nesta semana, o Brasil, especialmente o estado do Pará, foi palco de mais um caso emblemático de violência política de gênero. A protagonista da vez é a prefeita de Marituba, Patrícia Alencar. Um vídeo em que aparece dançando de biquíni, publicado em uma rede social privada com pouquíssimos seguidores, foi vazado e rapidamente ganhou repercussão nas redes e na mídia. O conteúdo, aparentemente inofensivo em um ambiente privado, foi distorcido e amplamente disseminado com o claro intuito de expô-la e atacá-la publicamente.
Mas o que está por trás desse episódio vai muito além da simples viralização de um vídeo: trata-se de uma clara manifestação de violência política de gênero. E precisamos falar sobre isso.
O que é violência política de gênero?
Violência política de gênero é qualquer ato que visa impedir ou restringir o acesso e o exercício dos direitos políticos das mulheres, ou que as induza a tomar decisões contrárias à sua vontade, apenas por serem mulheres. Essa violência pode ocorrer durante a campanha eleitoral, no exercício de funções públicas ou até mesmo após o mandato.
No caso da prefeita Patrícia, observamos duas manifestações claras previstas na definição:
- Dificultar o exercício dos direitos políticos: O vazamento do vídeo não teve outro propósito senão o de constrangê-la, humilhá-la publicamente e, com isso, fragilizar sua imagem e autoridade política, prejudicando seu desempenho no cargo.
- Induzir a decisões contrárias à vontade: A exposição midiática forçada busca pressioná-la a recuar, a se calar ou até mesmo a repensar sua permanência na vida pública, única e exclusivamente por seu gênero e pela maneira como se apresenta fora do ambiente institucional.
E a sociedade?
É preciso compreender que o que está em jogo aqui não é o comportamento pessoal da prefeita, mas o direito das mulheres de ocuparem espaços de poder sem que sua imagem, seus corpos ou sua vida privada sejam usados como instrumentos de deslegitimação. Quando um homem público aparece em situações descontraídas, raramente há o mesmo tipo de julgamento moral. Essa assimetria é a essência da violência política de gênero.
O papel da Justiça Eleitoral e da sociedade civil
Cabe à Justiça Eleitoral, ao Ministério Público e às instituições democráticas garantir a integridade das mulheres na política, investigando e responsabilizando os autores de atos que configurem essa violência. À sociedade civil, cabe o papel de não compactuar com esse tipo de exposição e refletir sobre como o machismo estrutural continua sendo uma barreira à igualdade de gênero na política.
Conclusão
O caso da prefeita Patrícia Alencar deve servir como um um marco para reforçar que as mulheres têm direito à vida privada, à liberdade de expressão e ao exercício da política, com a mesma legitimidade e respeito que se espera dos homens. A violência política de gênero precisa ser identificada, nomeada e combatida.