A nova revolução tecnológica está batendo às nossas portas, e as inteligências artificiais estão cada vez mais impressionantes e promissoras. Um exemplo de destaque é o famoso GPCHAT, um assistente virtual avançado projetado para fornecer suporte ao cliente, responder a perguntas sobre produtos ou serviços, fornecer informações sobre uma variedade de tópicos e até mesmo conversar com os usuários. Em termos leigos, o GPCHAT é um chatbot integrado a uma plataforma de mensagens ou aplicativo, capaz de responder a uma ampla gama de perguntas sobre o mundo que nos cerca, desde receitas de bolo até scripts sofisticados de linguagem Java. Mas o que isso significa para o futuro da tecnologia e da sociedade? Apenas o tempo dirá, mas uma coisa é certa: a era da inteligência artificial está apenas começando.
Como teólogo, há algo nessas questões que me interessa mais particularmente. Muitas pessoas me perguntam sobre o impacto dessas tecnologias na sociedade, na fé das pessoas e, claro, trabalho pastoral. Como teólogo, professor e ministro, certamente me interesso por essa reflexão. Qual pode ser o impacto desse tipo de tecnologia para a Igreja, para a teologia, para a evangelização e assim por diante? Novamente, apenas o tempo poderá dar respostas mais concretas sobre o tema. No entanto, é possível elaborar alguns pontos a respeito do tema.
Novas tecnologias, velhos perigos
Em teoria, a Inteligência Artificial pode ajudar na redação de artigos, sermões, estudo e teses. Mas isso ainda é incipiente. Por hora, as Ias ainda são bastante limitadas e cometem erros grosseiros. Mas a tecnologia é bastante promissora. De fato, conheço alguém que usou a ferramenta para escrever o script de um programa de televisão! São possibilidades valiosas. Por outro lado, há questão de fundo que não podem ser ignoradas. Imagine um sermão. Já existem no mercado centenas ou milhares de obras que fornecem sermões “prontos” ou quase para pastores e pregadores. Todo mundo sabe disso. Todavia, qual pastoral esse tipo de ferramenta pode, de fato, ser? Aqui estamos diante de velhos perigos, apesar das novas tecnologias. Sermões gerados por IA me parecem tão vazios de vida quanto aquele copiado de um livro de “esboço”. A menos que o pastor ou pregador deseje apenas “cumprir agenda”, o valor de um sermão reside em seu estudo, em suas observações das realidades de sua comunidade e em seu feeling, o que, como homem de fé, atribuo em parte ao agir do Espírito de Cristo.
Olhando positivamente para o futuro
Há também possibilidades muito promissoras. Creio ser possível encontrar usos legítimos para esse tipo de tecnologia, desde que deixemos a preguiça de lado. Darei alguns exemplos. Com o GPCHAT, as igrejas e pastores podem fornecer suporte virtual aos membros da congregação e alcançar um público mais amplo que não pode comparecer aos cultos ou outros eventos presenciais. Além disso, os chatbots podem ser programados para compartilhar mensagens e ensinamentos da Bíblia, bem como para enviar lembretes sobre eventos da igreja e oportunidades de serviço. Os chatbots também podem ser integrados a sites e aplicativos móveis da igreja, o que torna mais fácil para as pessoas acessarem informações e se conectarem com a comunidade da igreja. Isso pode ser particularmente útil para pessoas que estão procurando uma igreja para frequentar, mas não sabem por onde começar.
O uso inteligente desse tipo de ferramenta também pode favorecer a criatividade. Um bom livro de esboço de sermões, por exemplo, pode inspirar um sermão original, autêntico, verdadeiramente pastoral e poderoso. Ou podemos usar tais recursos preguiçosamente. A escolha é pessoal, contudo, acho valioso e libertador pensar que não é a tecnologia que tira de mim o empregou ou trabalho. Na realidade, é alguém que domina melhor a tecnologia que fica com meu trabalho. A menos que o futuro um dia salte das telas de um Exterminador do Futuro ou das cenas de Matrix, a tecnologia sempre vai estar a serviço do homem (idealmente, ao menos).
Uma abordagem pastoral
Uma crítica que costumo fazer a certas abordagens é que, às vezes, no lugar de pastores, temos “dirigentes de culto”, ou, quando muito, “cerimonialistas”. Pastorear é algo bastante distinto. É de grande importância que um pastor conheça sua congregação, suas necessidades e dramas, a fim de desenvolver seu ministério de forma pessoal e efetiva. Quando um pastor conhece sua congregação, ele pode fornecer um cuidado mais personalizado, seja em momentos de crise, enfermidade, ou até mesmo em momentos de alegria e celebração. O pastor que conhece sua congregação também pode adaptar suas mensagens e ensinamentos às necessidades específicas de cada membro, e assim ajudá-los a crescer em sua fé e enfrentar os desafios da vida. Além disso, conhecer a congregação permite que o pastor possa se envolver em projetos e atividades que atendam às necessidades específicas da igreja e da comunidade local. Em suma, o valor de um pastor conhecer sua congregação é essencial para um ministério eficaz e transformador.
Pastorear é algo que a Inteligência Artificial não pode fazer. Nem hoje, nem nunca. Há uma dimensão espiritual e transcendente na condição humana. O cuidado pastoral pode não ser perfeito, mas é necessário; pode não ser perfeito, mas deve ser sempre melhorado, algo possível se a gente não se render a preguiça sistêmica do nosso querido mundo líquido.
Rev. Marcelo Lemos
@revmarcelolemos
Bacharel em Teologia, jornalista, escritor e conferencista. O autor é diretor do Instituto Bereano e do Instituto Bíblico do Reino Unido no Brasil.