Recentemente, lancei um livro no Kindle intitulado “Naim: Encontros com a Vida”. Trata-se de uma obra breve, intimista e devocional, uma vez que consiste em transcrições e adaptações de sermões que preguei sobre o relato bíblico da ressurreição do filho da viúva de Naim. Sou um escritor limitado, porém, apaixonado pela simplicidade do evangelho e pela abrangência do amor divino. Mais do que isso, sou fascinado pelo Deus que se humaniza, que desce, chega, entra, sai, peregrina, sente, chora e morre.
“Naim” aborda um pouco dessa teologia encarnacional, que pode parecer assustadora para muitos, inclusive para mim, que por muito tempo estive imerso em concepções teológicas voltadas para a glória.
Curiosamente, o Deus que se fez homem toca alguma dimensão do nosso ser capaz de gerar mudanças e reflexões profundas. Nunca esperei, por exemplo, receber perguntas como a que um leitor me enviou no último final de semana: “Reverendo, como é possível falar sobre esse Deus em um mundo dominado pelo politicamente correto?” Não faço ideia de como o livro possa ter provocado tal questionamento, mas, aqui vamos nós!
Talvez o leitor tenha sido tocado, assim como eu, pelo desejo irresistível de compartilhar esse Amor Encarnado com todos ao seu redor. Se esse for o caso, talvez o leitor esteja enfrentando a incômoda sensação de que falar sobre Jesus hoje em dia pode soar um tanto ofensivo para algumas pessoas, especialmente aqueles que seguem outras religiões. Essa linha de pensamento levou o leitor a enviar-me essa pergunta específica? Não tenho como saber com certeza, mas assumirei que seja esse o caso para compartilhar algumas breves e despretensiosas considerações.
Eu começaria dizendo que, do meu ponto de vista, não faz sentido associar a evangelização com ofensas e agressões. Embora reconheça que, às vezes, isso ocorra e que alguns cristãos pareçam acreditar que essas atitudes são justificadas, é importante destacar que isso é um pecado, sem margem para dúvidas. Para o apóstolo Pedro, é dever do cristão falar de sua fé “com mansidão e temor” (1 Pedro 3:15), mesmo quando enfrenta oposição. Embora nem sempre seja fácil, admito por experiência própria, é um dever cristão. Quando falhamos nesse ponto, estamos pecando, independentemente de quão boas fossem nossas intenções.
Através da evangelização, os cristãos compartilham a mensagem de Jesus Cristo e seus ensinamentos com outras pessoas. É não só possível, mas também necessário, falar de Jesus sem ofender ou menosprezar as crenças dos outros. Para alcançar esse objetivo, é fundamental conhecer as outras religiões. Ao aprender sobre as crenças, práticas e tradições de diferentes grupos religiosos, desenvolvemos uma compreensão mais ampla e respeitosa das perspectivas alheias. Essa conscientização nos ajuda a evitar generalizações e preconceitos infundados. Atualmente, me entristece profundamente ver pastores gritando aos quatro ventos que os praticantes de religiões afro-brasileiras, por exemplo, desejam “destruir famílias” ou praticar “trabalhos para matar”. Esse tipo de discurso não evangeliza, apenas perpetua preconceitos infundados.
Por outro lado, como cristãos, não devemos simplesmente deixar de evangelizar as pessoas. Para nós, anunciar o Evangelho é uma questão de fé, é parte essencial do nosso ethos religioso, sem o qual a nossa religião deixaria de existir. Não podemos abrir mão disso, nem podemos permitir que alguém nos proíba de fazê-lo. Ao longo dos séculos, milhares de cristãos deram suas vidas por essa crença. No entanto, voltemos à questão da responsabilidade cristã: evangelizar com amor. Ninguém definiu o amor de maneira mais clara do que o apóstolo Paulo: “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece; não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha” (1 Coríntios 13:4-8).
Como falar de Jesus em um mundo politicamente correto, ou em qualquer outro mundo? Lembre-se das palavras de Paulo: “O amor nunca falha”. Se abandonarmos essa premissa, não faz sentido algum anunciar Jesus.
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