Quando comecei a usar redes sociais eu via a maioria das mulheres postando coisinhas fofas, engraçadas, sobre os filhos, fotos com maridos, frases de auto-ajuda e receitas. E eu acabava fazendo o mesmo. Mas, em 2013, quando começaram as articulações para o golpe em Dilma Rousseff eu recomecei a discutir política. Digo recomecei porque faço política desde 16 anos, na luta pelas diretas já, levada pelos primos, porque nenhuma mulher na família sequer votava por conta própria, infelizmente.
Depois ingressei no PT, participava do grupo de mulheres, mesmo assim ainda era pouco, porque mulheres tem, infelizmente ainda hoje é assim, mais limitações de tempo, os filhos, a casa, o trabalho, tudo isso vem como prioridades, muito mais para nós, mulheres, do que para homens. Mudei de Estado, do RS para SC, mudei também em muitas coisas, deixei a política de lado, pois aqui a política só era importante em época de eleição, a gente acaba desistindo por falta de incentivo e muitas outras coisas que vão acontecendo.
Mas ali, em 2013, eu sentia que tinha que recomeçar a discutir, via que havia algo muito errado naquilo tudo, não conseguia mais ficar calada. Comecei a discutir em grupos, mas era tudo muito clube do bolinha, praticamente sozinha discutindo com machos cheios de testosterona que só sabiam me mandar lavar roupa ou louça ou se achavam no direito de xingar ou cantar, conforme suas vontades, as minhas não importavam pra eles. As mulheres, como antigamente, ainda não conseguiam sair da “sala” que era reservada pra elas, submissas, com medo de dar opinião, porque afinal mulher não discute política.
Mas eu continuei, porque ficar calada não faz parte do meu ser, fazia questão de entrar nos assuntos polêmicos, discutir, apresentar fatos, datas, argumentos válidos, tudo pesquisado porque já tinha cuidado com fakes. E aquilo foi crescendo, eu via mulheres chegando devagar, criando coragem e aumentando cada vez mais em número. Hoje estamos aí, nas redes sociais, nas ruas, em todos os lugares, discutindo, não só política, como tudo. Embora ainda tenhamos muito a fazer, estamos longe do ideal, eu me sinto orgulhosa disso, uma porque não me acovardei e parei, outra porque consegui mostrar para muitas que nosso lugar é onde nós quisermos estar e podemos discutir política, sim!