A oito meses das eleições, cenários ainda estão completamente indefinidos.

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Acostumados a conviver com cabos eleitorais fortes e fatores externos suficientes para decidir a favor ou contra algum candidato, os brasileiros entram no ano eleitoral sem um personagem ou situação que possa ajudá-los a definir o voto. Mais da metade dos eleitores (precisamente 53%) não votará em um candidato apoiado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda considerado o maior líder popular do país. O presidente Michel Temer, que fez um périplo de autopropaganda nos programas do Ratinho, Amaury Júnior e Silvio Santos, segue enfrentando uma rejeição de quase 70%, o que o limita como um influenciador de peso nas eleições. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), com seu discurso ameno, acaba engolfado pelo tom de beligerância do atual debate nacional.

 Para compensar a baixa aprovação do presidente, o governo aposta no discurso da recuperação da economia para seduzir as pessoas a votar em um candidato alinhado ao Planalto. Poderá ser em vão. Para o cientista político Carlos Melo, do Insper, os indicadores econômicos não serão fortes o suficiente para definir o vitorioso. “Não estamos nem de longe vivendo momentos como o do Plano Cruzado (1986), do Plano Real (1994) ou da euforia com um crescimento do PIB de quase 8% (2010)”, disse ele.

O desemprego ainda assusta 12 milhões de brasileiros. “Em 2016, o país tinha 50 mil motoristas de Uber. No ano seguinte, 500 mil. Isso é subemprego, não é retomada do mercado de trabalho”, declarou Melo. Na avaliação de diversos especialistas, a argumentação de que a inflação e os juros estão em queda é insuficiente para convencer um desempregado de que o país está melhor. “Esse cenário de fato está muito confuso, porque os principais pilares que influenciam as decisões do eleitorado estão frágeis. Você ainda tem a reforma da Previdência, que poderá ajudar alguns candidatos, mas derrubar muitos outros”, afirmou o professor de ciência política da FGV-RJ Sérgio Praça.

Não voto

As dificuldades do provável candidato do PSDB ao Planalto, Geraldo Alckmin, não estão atreladas à rejeição pessoal, mas à timidez com a qual defende seus pontos de vista. “Nesse cenário de ataques exagerados, a postura mais calma de Alckmin acaba fazendo com que ele desapareça em meio ao discurso radical dos extremos”, declarou o secretário-geral do PSB, Renato Casagrande. “Pode até ser que, quando a campanha chegar, essa estratégia dele se mostre acertada. Mas não neste momento”, completou.

O professor de ciência política da PUC-RJ Ricardo Esmael avalia que ainda é cedo para apostar em um desencanto generalizado do eleitorado. Ele não se assusta com os altos percentuais de votos brancos, nulos e abstenções verificados nas recentes pesquisas de intenção de voto, embora reconheça que nas eleições municipais de 2016, tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro, os votos do vencedor do segundo turno foram superados pelo não votos. No caso da capital fluminense, por exemplo, esse total somou 2 milhões contra 1,7 milhão recebidos por Marcelo Crivella (PRB).

Esmael lembra que as eleições ainda estão muito distantes e que os partidos nem sequer realizaram as convenções para definição de candidaturas. E que, ainda assim, estas só serão homologadas em 15 de agosto. “Lula será candidato? Quem virá pelo PSDB, Alckmin ou João Doria? Joaquim Barbosa será candidato em dobradinha com Marina Silva? Não descartemos a hipótese de que, durante a campanha, desponte um nome que ainda não está sequer cogitado”, disse o professor da PUC. E as chances de uma candidatura de Luciano Huck? “Ele corre o risco de disputar o mesmo espaço da candidatura do PSDB, além de ser carimbado como candidato de uma emissora. Terá que ampliar esse debate”, sugeriu Esmael.

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Fonte: Correio Braziliense

 

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