A Reforma Protestante foi sem dúvida um dos acontecimentos históricos mais impactantes. A Reforma tem como ponto de partida o dia 31 de outubro de 1517, ocasião que Martinho Lutero (1483-1546), padre, da ordem de Santo Agostinho, afixou na porta Catedral de Wittemberg as conhecidas 95 teses.
A Reforma não surgiu com o desejo de dividir a igreja. Seu propósito era reconduzir a igreja aos ensinos do Novo Testamento que ele acreditava ter a igreja abandonado, trazer a igreja ás Escrituras. Pois, principalmente no período medieval que começa no século V até XV a igreja se desviou de forma fragorosa dos ensinos de Cristo e dos apóstolos.
Podemos apontar alguns dos desvios: Corrupção moral, venda de indulgências (perdão e misericórdia mediante pagamento), cobrança dos sacramentos, venda de relíquias sagradas, venda de cargos no clero e ignorância religiosa dos padres.
Diante deste quadro surgiu homens chamados historicamente de pré-reformadores, John Wycliffe ( 1328 – 1384 ) e John Huss ( 1369 – 1415 ), que denunciaram os erros da igreja, e enfatizaram a importância de colocar a Bíblia na linguagem do povo, estes foram mortos pela igreja acusados de heresia.
No cenário surge aquele que seria conhecido como o pai da Reforma, Martinho Lutero, que enfatizou as denúncias feitas pelos pré-reformadores. Lutero desejava ver a igreja reformada moralmente e teologicamente, não desejava dividi-la. A divisão foi consequência da dureza da igreja em não reconhecer seus erros e abusos. Em suma Lutero defendeu a salvação pela fé em Cristo somente, tradução da Bíblia, leitura e livre exame da mesma. Não se pode negar que Lutero cometeu alguns excessos, Lutero era homem e não Deus.
Outros reformadores ocupam grande espaço na história da reforma como Ulrico Zwínglio (1484-1531) em Zurique, João Calvino ( 1509 – 1564 ) o grande reformador francês radicado na Suiça, John Knox ( 1514 – 1572 ) na Escócia. Estes foram grandes exemplos de amor e busca pela verdade. Longe estavam de ser perfeitos, no entanto demonstraram amor pela igreja e pela verdade contida nas Escrituras ainda que isso lhes custasse a liberdade e a vida.
Hoje 31 de outubro comemorasse o dia da reforma, mas na verdade o que temos a comemorar? Precisamos pensar sobre isso!
Pra bem da verdade a maior parcela das ditas igrejas evangélicas abraçam, flertam, adoram tudo aquilo que os reformadores combateram. Hoje igrejas evangélicas vendem em nome de Deus o que deveria ser pela graça, barganham benefícios espirituais, tapetes de fogo, sal grosso, campanhas mágicas para promover prosperidade e saúde. Tudo isso reflexo da ignorância bíblica-teológica vigente entre os protestantes, parece que estamos voltando a Idade Média. O povo protestante cada vez mais, conhece menos de doutrina, de teologia, alguns ainda preservam a nociva ideia de que teologia é desnecessário, e que quem a estuda não tem unção, lamentável. Acrescentamos a lista a corrupção moral, brigas políticas, guerras por cargos eclesiásticos e o envolvimento de igrejas e pastores com o lado mais nefasto da política.
Uma das coisas que tem agitado o mundo evangélico no Brasil nos últimos anos é a crescente discussão entre calvinistas e arminianos. Obras tem sido escritas para rechaçar o sistema do outro, e o que se perceber é que para fazer isso os cristãos usam todas as armas possíveis e a preferida é a desmoralização do outro. É preciso provar que o outro sistema ou defensor tem pontos obscuros na história. O calvinista diz que o arminiano e arrogante, o arminiano diz que o calvinista é que é arrogante e assim vamos caminhando na santa paz e rumo ao mesmo céu. Assim se mostra de forma “simples” de que pouca coisa se aprendeu com Jesus.
Precisamos resgatar o legado deixado pelos reformadores, no sentido do amor pela verdade, pelas Escrituras, desejo de voltar a fonte, de render-se a Deus. Ao passo que precisamos aprender que os reformadores cometeram equívocos em muitos pontos, precisamos entender que eles forma instrumentos de Deus em um momento especifico da história, só instrumentos.
É preciso reconhecer que necessitamos urgentemente abandonar a idolatria gospel, as superstições, o show da fé, a negligência ao estudo da Bíblia e de outras ciências ( examinar tudo é necessário ), como também se faz necessário desenvolvermos a capacidade de pensarmos e caminharmos juntos: reformados, pentecostais, neopentocostais e católicos para promover a paz, a justiça social e harmonia entre as igrejas.
Precisamos viver de forma santa, firmados na Palavra, e assim protestar contra o estado de coisas que contraria os princípios do Reino de Deus. Afinal de contas desde 1529 somos conhecidos como protestantes.
Viva a Reforma Protestante!
Taciano Cassimiro