SINOPSE
Um 1972 um repórter do jornal Washington Post começa a investigar a invasão da sede do Partido Democrata. Mal sabia ele que esse evento aparentemente isolado iria deflagrar um dos maiores escândalos da vida política norte-americana.
CRÍTICA
O caso Watergate foi um dos episódios mais polêmicos da história política dos Estados Unidos e levou o presidente Richard Nixon a renunciar durante seu segundo mandato, em 1974. Quem revelou a conspiração toda e ajudou a derrubar Nixon e seus comparsas foi uma dupla de jornalistas novatos do Washington Post que, com grande faro para a investigação e muito trabalho duro, desvendaram o mistério guardado a sete chaves por seus idealizadores. Uma história como essa daria um excelente filme e, tendo isso em vista, apenas dois anos após a renúncia do presidente, Todos os Homens do Presidente chegava aos cinemas. Produzido por Robert Redford, que também atua no filme como um dos repórteres, o longa-metragem é um bom exemplo de como trabalhar corretamente em cima de uma história verídica.
O roteiro é adaptado do livro de Bob Woodward e Carl Bernstein, os jornalistas que investigaram e escreverem a matéria sobre o caso Watergate, e é assinado por William Goldman. No papel dos autores da trama, Redford e Dustin Hoffman encarnam uma dupla que ganha coesão no decorrer da investigação, começando titubeante e encontrando posteriormente seu ritmo. Diferente de outros duos cinematográficos, Woodward e Bernstein não são grandes amigos, mas se dão bem fazendo seu trabalho. A relação entre eles é deixada de lado em detrimento à história, que realmente é mais importante. Este fato, porém, não deixa que os personagens sejam menos interessantes. Eles têm uma grande força individual que pode facilmente ser provada durante as entrevistas que fazem no desenrolar da trama. Duas cenas provam isso: a entrevista em que Bernstein arranca de uma reticente testemunha até as iniciais dos nomes dos envolvidos e a longa tomada em plano-sequência de Woodward ao telefone, tentando obter informações sobre um cheque de valor obsceno.
Falando em tomadas, Alan J. Pakula foi uma escolha totalmente acertada para comandar este suspense político. O diretor consegue imprimir um ritmo sufocante à trama, mesmo que já saibamos previamente o que acontecerá. Sabemos que Nixon renuncia no final, sabemos que os envolvidos no caso Watergate tinham rabo preso e que os jornalistas que escreveram esta matéria estão vivos e bem. Mas mesmo assim, a narrativa nos absorve de tal forma que acabamos ficando preocupados com a segurança dos repórteres.
Para quem faz jornalismo, Todos os Homens do Presidente é uma verdadeira aula de como se exerce bem a profissão. Os repórteres do Washington Post retratados no longa-metragem são persistentes e incansáveis em suas tarefas, chegando a correr risco de vida por sua insistência. Para as plateias mais jovens, a curiosidade é acompanhar o trabalho de um jornalista que não contava com computadores para escrever suas matérias ou a internet para pesquisar fatos. Um exemplo claro disso é quando Woodward precisa encontrar o telefone de uma fonte na lista telefônica. Com a web, ele faria isso em dois cliques. Já com a lista de papel é outra história. Mas não é só isso que é interessante para o aluno de Jornalismo. O trato com as fontes é retratado de forma bastante cuidadosa na história. Principalmente quando mencionamos a figura do misterioso Garganta Profunda, um homem que – hoje sabemos – era do alto escalão do FBI e que ajudou os repórteres a continuarem no rumo certo da matéria.
Os norte-americanos sabem como ninguém contar sua história e Todos os Homens do Presidente é mais um exemplo disso. O que mais impressiona é a rapidez que este acontecimento em particular virou filme: apenas dois anos depois da renúncia de Nixon. Vencedor de 4 prêmios da Academia (incluindo Melhor Roteiro Adaptado e Ator Coadjuvante para Jason Robards) e indicado ao Oscar de Melhor Filme, Diretor, Montagem e Atriz Coadjuvante (Jane Alexander), o longa-metragem falhou apenas em conseguir indicações para sua dupla principal, que tinha nas mãos grandes personagens e entregam performances dignas do tamanho de seus papéis.
Quarenta anos depois de seu lançamento, Todos os Homens do Presidente se transformou em um farol de qualidade para produções que pretendem mostrar a boa prática do jornalismo ou um verdadeiro senso de correção em investigações minuciosas. Filmes como Zodíaco (2007), de David Fincher, ou o oscarizado Spotlight: Segredos Revelados (2015), de Tom McCarthy, bebem diretamente na fonte desse clássico de Alan J. Pakula. Para ver e rever sempre, não só por ser um thriller muito bem concebido, mas pelo retrato acurado de uma época.