Lei que determina a substituição de sinalização da pessoa idosa é debatida

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Lei que determina a substituição de sinalização da pessoa idosa é debatida
Deputado estadual Carlos Bordalo, do Partido dos Trabalhadores (PT). Celso Lobo (AID/ALEPA)
Uma reunião de trabalho convocada pela Comissão de Direitos Humanos do parlamento estadual foi realizada nesta segunda (4), pela manhã, na sala Multiúso da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa). O objetivo foi debater com representantes de instituições públicas governamentais e da sociedade civil a questão do etarismo no Estado, o cumprimento da Lei Estadual nº 10.219/2023 e mecanismos de sua aplicabilidade.
  • A reunião foi presidida pelo deputado Carlos Bordalo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos e autor da Lei 10.219/23, sancionada pelo governador Helder Barbalho no último dia 30 de novembro. A legislação determina a substituição do pictograma atual de sinalização indicativa representado por uma pessoa curvada de bengala, em vagas, assentos, filas e outros que realizem serviços prioritários à pessoa idosa por uma nova sinalização indicativa que deve conter apenas a imagem de uma pessoa ereta com sinalização “60+”. Pictograma é uma imagem ou símbolo representando dados pretendendo informar um signo da língua escrita.

Para Bordalo, as mudanças da imagem representativa dos idosos nas placas continuarão exercendo seu papel de instruir a população de forma clara e objetiva, acrescida agora da garantia da inviolabilidade da autoestima e dignidade a população idosa. “O objetivo central da Lei é associar a pessoa idosa à saúde e não à doença. Por isso, considera-se mais apropriado que a imagem que represente o idoso seja de um corpo comum, com o indicativo de idade “60+”, justificou.

O Conselho Nacional de Trânsito (Contran), por meio da Resolução nº 965/2022, recomendou a referida alteração do pictograma nas áreas de segurança e de estacionamento específicos de veículos. “A lei procura estadualizar esta medida para todos os espaços públicos do Estado do Pará, onde sejam feitas referência às pessoas idosas”, disse Bordalo. Para o deputado, a reformulação contribui com uma mudança cultural, tanto na iniciativa pública ou privada quanto no estereótipo criado para a pessoa idosa.

Lei que determina a substituição de sinalização da pessoa idosa é debatida
Celso Lobo (AID/ALEPA)

Aumento da população idosa

Dados do último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/2022) revelam que a população idosa com 60 anos ou mais chegou a 32.113.490 (15,6%), um aumento de 56% em relação a 2010, quando esse número era de 20.590.597 (10,8%). Em 2022, o total de pessoas com 65 anos ou mais no país (22.169.101) chegou a 10,9% da população, com alta de 57,4% frente a 2010, quando esse contingente era de 14.081.477, ou 7,4% da população. Já o total de crianças com até 14 anos recuou de 45.932.294 (24,1%) em 2010 para 40.129.261 (19,8%) em 2022, uma queda de 12,6%.

Mas o que é o etarismo? A expressão significa a discriminação ou preconceito em razão da idade, nomeadamente aversão a pessoas mais velhas ou à própria velhice. Atualmente, o etarismo é um crime tipificado no artigo 96 do Estatuto do Idoso, com pena prevista de 6 meses a um ano de reclusão e multa.

O jornalista e gerontólogo Ney Messias, em sua explanação, afirma que um pictograma traduzindo a pessoa idosa como uma alguém frágil e adoecido tem um impacto negativo para uma população inteira que visita os shoppings, os espaços públicos, as repartições públicas e também as empresas privadas. Para ele, a mudança começa exatamente nos elementos imagéticos. “É de extrema importância a mudança desses pictogramas, para que quando a gente se depare com eles a gente crie mentalmente e internalize uma nova imagem do que é a pessoa idosa”, avaliou.

Lei que determina a substituição de sinalização da pessoa idosa é debatida
Celso Lobo (AID/ALEPA)

Ney destacou ainda no debate a importância do cumprimento da legislação. “Agora é fazer valer essa lei”. Para ele, a pessoa idosa ainda é muito fragilizada na sociedade brasileira, “chegando a ser invisibilizado, fragilizado, adoecido, descartado por falta de cumprimento de dispositivos legais”. Em sua compreensão, para solucionar o problema, bastaria o comprimento dos três elementos do escopo legal previsto para as pessoas idosas.

“Se fizermos valer os artigos destes dois arcabouços legais, a Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso, a situação do idoso já melhoraria muito nesse país. Há a necessidade de os governos municipais e estaduais entenderem e cumprirem o programa federal chamado Programa Envelhecer nos Territórios. Por exemplo, em Belém não tem o Conselho Municipal do Idoso ativado, o que vai de encontro ao que dita o programa do governo federal”, anotou.

Participaram do diálogo com o deputado Carlos Bordalo, Monica Silva, do Conselho da Pessoa Idosa, representando a Secretaria Estadual de Igualdade Racial e de Direitos Humanos; Leticia Bittar, da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará (OAB/PA), Comissão de Direitos da Pessoa Idosa; Francisco Fernando, do Sindicato Nacional da Pessoa Idosa; Ingrid Santos, Diretora Geral da Secretaria de Direitos Humanos da prefeitura de Belém.

Também esteve presente Marly Silva, presidente do Conselho de Representantes da Federação das Associações de Aposentados; Nazaré Nepomuceno, do Conselho Estadual da Pessoa Idosa e da Pastoral da Pessoa Idosa; Gisela Siqueira, da Fundação Escola do Legislativo/Alepa; e ainda o gerente de operações do Boulevard Shopping, que desde setembro do ano passado já substituiu as placas e inscrições no estacionamento pelo pictograma atual, uma pessoa ereta ao lado tendo a inscrição de “60+”.