Dizem: “O governo não é a sua salvação. Trabalhe duro. Estude. Vença por esforço próprio.”
Nós respondemos: mentira!
Essa ladainha repetida por Mia Love, embrulhada em papel colorido de motivação, não passa de aveludada chantagem ideológica. É a fala típica da classe dominante que adora pregar moral aos pobres enquanto vive sugando o Estado como um parasita. Querem que o trabalhador acredite que só lhe resta a lida insana e a fé na escola sucateada. Querem que a cozinheira, o pedreiro, o lavrador, o desempregado se culpem por não prosperar num jogo em que as cartas já foram marcadas pelos donos do baralho.
E qual é a realidade?
A burguesia brasileira sonega impostos de forma criminosa, envia a riqueza produzida aqui para fora, exporta mais de 80% do que a classe trabalhadora planta, fabrica e colhe. E do que sobra, ainda vende caro e precário ao povo. Ao mesmo tempo, chora nos corredores do Estado e arranca subsídios bilionários, perdões fiscais, renúncias orçamentárias. O que é o Estado, afinal, senão a teta permanente da elite? Para o pobre, austeridade; para o rico, abundância. Para o trabalhador, disciplina e chicote; para o latifundiário, perdão e incentivo.
A meritocracia é o mais sofisticado dos engodos. Não liberta, não emancipa, não oferece futuro. É um grilhão mental, um chicote ideológico que transforma a exploração em destino pessoal. Como ensinou Marx, o que aqui se vende como virtude não é senão a reprodução da dominação.
Digamos sem rodeios:
Educação e trabalho não bastam quando a escola é um caco e o salário é uma esmola.
Prosperidade individual não existe quando o coletivo está de joelhos.
O governo não é salvação para os pobres porque já é há séculos o salva-vidas permanente dos ricos.
Querem nos convencer de que a libertação é um ato solitário, uma corrida individual contra a maré. Mas a maré é de chumbo. E ninguém nada sozinho em águas tão pesadas. Paulo Freire nos lembra: “Ninguém se liberta sozinho, os homens se libertam em comunhão.” E é isso que temem: que o trabalhador compreenda que sua salvação não está em se esforçar mais para enriquecer o patrão, mas em se organizar, se insurgir, se rebelar.
Chega de acreditar na fábula meritocrática! Chega de aceitar a pedagogia da resignação! Não nos faltam trabalho e suor — nos roubam o fruto do nosso esforço. Não nos faltam ideias e educação — nos falta o chão social que lhes dê dignidade.
Se a classe dominante proclama que o governo não é salvação, é porque para ela já é eternidade garantida. Cabe a nós arrancar das mãos da burguesia esse monopólio do Estado e reconstruí-lo como arma do povo, ferramenta de libertação.
Trabalho e educação só serão libertadores quando acompanhados de justiça social, reforma estrutural, revolução das condições materiais. O resto é discurso envenenado, é narcótico ideológico, é mentira repetida para que os oprimidos continuem acreditando que a culpa é deles.
Fonte: Davi Barbosa Delmont