Por mais de 40 anos o Apartheid vigorou na África do Sul. Entre 1948 e 1994, negros sofreram com uma política separatista e autoritória imposta por uma minoria branca.
Assim, as chamadas “pessoas de cor” eram impedidas de frequentar certos espaços públicos e dispunham de serviços inferiores aos dos brancos, como a saúde e a educação.
Apesar da segregação racial na África do Sul ter tido início durante o período colonial britânico e holandês do século 19, a prática se tornou uma política oficial no país após as eleições gerais de 1948 — sua implementação foi feita pelo pastor protestante Daniel François Malan, primeiro-ministro do país, conforme aponta a Encyclopedia Britannica.
Em 6 de novembro de 1962, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou a ‘Resolução 1761’, que não só condenava as políticas racistas e segregacionistas do governo sul-africano como também convocava os Estados-membros dos países para cortarem quaisquer tipos de relações diplomáticas e econômicas com a África do Sul.
Em 1973, a mesma Assembleia Geral condenou internacionalmente o Apartheid como injusto e racista através da aprovação do texto da “Convenção Internacional da Punição e Supressão ao Crime do Apartheid”.
Mas nem todos viam essas sanções como algo benéfico aos seus interesses. Um exemplo disso é da ex-premiê britânica Margaret Thatcher, que prometeu ao então presidente da África do Sul, Pieter Willem Botha, que lutaria contra a pressão para aplicar medidas de restrição ao país.
O apoio de Thatcher
O apoio da Dama de Ferro foi exposto em uma carta escrita por ela própria datada de 31 de outubro de 1985. Na missiva, a primeira-ministra do Reino Unido afirma que não aplicará sanções econômicas ou comerciais contra a África do Sul.
Em contrapartida, porém, sugere que Botha liberte Nelson Mandela — uma das principais figuras da oposição ao Apartheid — e siga outras medidas de impacto internacional. Desta forma, justifica a premiê, isso a ajudaria a não romper com o regime.
Conforme aponta matéria publicada pela Folha de São Paulo em 2013, o Reino Unido, assim como outras nações, tinham um enorme interesse financeiro na África do Sul. Esse grupo defendia a ideia de que punições contra o país fosse apenas algo retórico.
“Os interesses de alguns países seriam severamente atingidos se sanções forem aplicadas”, escreveu Thatcher.
Segundo a fonte, a carta enviada de Londres à Botha recebeu o timbre de “secreto e pessoal” pelo governo britânico. O registro faz parte do acervo da Fundação Margaret Thatcher.
“Eu devo resistir a sanções porque acredito que são erradas e que não é interesse britânico fazer isso”, prossegue a Dama de Ferro.
A premiê britânica aponta que, em sua visão, a aplicação de sanções é algo que “não funciona”, por prejudicar quem quer ajudar. Ela também ressalta que o atual governo sul-africano está ajudando a mudar a situação opressora do regime.
“Continuo acreditando que a libertação de Nelson Mandela teria mais impacto que qualquer outra ação”, diz Thatcher em outro trecho da carta.
O erro da Dama de Ferro
Por conta da forma como conduziu esse processo, não agindo contra o regime segregacionista, Margaret Thatcher recebeu inúmeras críticas que perduraram por anos. Em 1987, cerca de dois anos após o envio da missiva, ela chamou o Congresso Nacional Africano (CNA), partido de Mandela, de “organização terrorista”.
Em 2006, David Cameron, que serviu como primeiro-ministro do Reino Unido, entre 2010 e 2016, pelo Partido Conservador, o mesmo da Dama de Ferro, considerou a posição de Thatcher como um “erro”.
Na carta escrita por ela, Margaret ainda aponta que havia sofrido uma pressão na reunião da Commonwealth para apoiar as sanções contra a África do Sul. “Eu estou decidida a continuar resistindo a essa pressão e encontrei determinação parecida no presidente [Ronald] Reagan [EUA] quando nós discutimos esse tema em Nova York semana passada, mas preciso de sua ajuda”.
“Fui acusada de preferir empregos britânicos a vidas africanas, de não me preocupar com os direitos humanos, e muito mais”, completou.