Como é? Nada menos de 26 ministros de tribunais superiores são donos de imóveis em Brasília, mas, mesmo assim, recebem o auxílio-moradia, de R$ 4.377,76?
Que espetáculo deprimente!
Como é? O juiz Sérgio Moro, o nosso Galaaz, o Cavaleiro do Santo Grau, tem apartamento próprio em Curitiba, mas, mesmo assim, também recebe o auxílio-moradia? Sua inquieta mulher poderia dizer: “Moro com ele em nosso imóvel, mas recebemos a graninha”.
Como é? Deltan Dallagnol, o implacável, recebe auxílio-moradia (4.377,73), auxílio-pré-escola (R$ 1.398) e auxílio-alimentação (R4 884,00)? O procurador-estrela também tem imóvel próprio. E mais de um. Comprou, por exemplo, dois apartamentos em Ponta Grossa que integram o Programa Minha Casa, Minha Vida. Um deles por R$ 80 mil. Outro, por R$ 76 mil.
Como o dinheiro do auxílio-moradia não sai com carimbo, então ele integra a poupança do buliçoso-rapaz. Logo, o Estado brasileiro não paga a Dallagnol auxílio-moradia, mas auxílio-propriedade.
E assim é com milhares de outros membros do Judiciário e do Ministério Público.
Nesta quinta, enquanto Cármen Lúcia erguia uma estátua ao óbvio em Brasília, na abertura dos trabalhos do Supremo, entidades que representam os juízes e membros do Ministério Público protagonizavam um espetáculo deprimente. Sim, já tratei do assunto aqui, mas volto ao caso. Em seu discurso, a ministra afirmou que decisões do Judiciário têm de ser respeitadas. Bem, quem diria o contrário? Mas a ministra também poderia ter lembrado a seus pares que essa mesma Justiça tem de se fazer respeitar.
Ilustres figuras do Judiciário e do Ministério Público estão inconformadas com a imprensa. Enquanto o jornalismo fustiga os políticos — por bons e também por maus motivos, deixo claro —, os doutores não se abalam. Ao contrário. Procuradores usam os repórteres como seus aliados no que consideram a guerra contra a corrupção. Da mesma sorte, os magistrados cantam, quando interessa, em prosa em verso a liberdade de imprensa. Desde que empregada para radiografar o Legislativo e o Executivo.
Mas basta que o jornalismo resolva jogar os holofotes no próprio Judiciário e seus impressionantes privilégios, aí o coro começa a gritar: “Conspiração! Estão querendo acabar com a Justiça e com o MP porque nós denunciamos a corrupção”. Com o devido respeito, uma ova!
Qual é a alegação principal dos doutores? Ah, trata-se de uma questão de isonomia, já que deputados e senadores gozam do benefício. De resto, alegam, o ganho está previsto em lei. É preciso recuperar os fatos. Brasília reúne parlamentares de 26 outras unidades da Federação, além dos representantes do Distrito Federal. O sujeito se desloca de seu Estado de origem para morar na cidade. Vá lá… O apartamento funcional ou o pagamento de um valor correspondente ao aluguel é, sim, um privilégio, mas ainda dá para engolir, tomando-se um Engov antes e outro depois. Vamos convir: o sujeito é político porque quer. Nós a tanto não o obrigamos.
Da mesma sorte, tolerava-se o auxílio-moradia a juízes que fossem deslocados para cidades outras, que não aquela em que tinham firmado residência… Tá… Vai o ministro Luiz Fux, do Supremo, e, numa canetada indecente, viu uma discriminação odiosa no fato de alguns juízes receberem o auxílio, e outros não. E, generoso que é com o dinheiro do povo brasileiro, resolveu praticar igualdade às nossas custas: estendeu a mamata a todos os juízes e membros do MP, num total de 31 mil pessoas. Custo anual da brincadeira: R$ 1,6 bilhão.
A Folha revelou os respectivos nomes dos 26 membros de tribunais superiores que levam a grana. Nenhum deles ousou nem mesmo defender o indefensável. Limitaram-se a dizer que tocavam conforme a música. Se a Justiça, que é o Poder que eles próprios integram, mandou pagar, então, ora essa!, eles recebem…
Essa turma é sempre muito ligeira em fazer a distinção entre o legal e o moral quando estão em jogo os interesses alheios. Quando falam os seus próprios, a legalidade (embora duvidosa) enverga automaticamente as vestes da moralidade.
As entidades que representam juízes e procuradores não se limitaram a defender o indefensável privilégio. Também promoveram um berreiro contra a reforma da Previdência. A conta que mais escandalosamente agride os cofres públicos; a despesa que provoca o maior rombo do caixa… Bem, os nossos togados querem que tudo fique como está — ao menos no que lhes diz respeito.
“Conspiração!”, gritam alguns, tentando enganar a opinião pública. “O PT e os políticos estão por trás de tudo isso! Esse tema só está aí porque Lula foi condenado… “.
Farsa! Mentira! Vigarice!
Convido os leitores deste blog a fazer uma pesquisa para saber desde quando trato deste assunto nesta página.
Não há conta de corrupção que custe tão caro ao povo brasileiro como a da Previdência. Aqueles que levaram a classe política e a própria política à falência pretendem exibir suas virtudes de grandes patriotas. Desde que ninguém toque nos seus privilégios.
É asqueroso!
A propósito: será que, a exemplo de Jair Bolsonaro, esses felizes proprietários que recebem o auxílio-privilégio também o fazem por canibalismo, para “comer gente”?
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Segue a lista dos ministros de tribunais superiores que, mesmo morando em residência própria em Brasília, recebem o auxílio moradia:
Dos 33 do Superior Tribunal de Justiça, 12 estão nessa condição:
– Assusete Dumont Reis Magalhães;
– Fátima Nancy Andrighi;
– Francisco Cândido de Melo Falcão Neto;
– Humberto Eustáquio Soares Martins;
– Laurita Hilário Vaz;
– Luiz Alberto Gurgel de Faria;
– Maria Isabel Diniz Gallotti Rodrigues;
– Nefi Cordeiro;
– Reynaldo Soares da Fonseca;
– Ricardo Villas Bôas Cueva;
– Rogerio Schietti Machado Cruz;
– Sebastião Alves dos Reis Júnior
Dos 26 ministros do TST, são 11:
– Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira;
– Augusto César Leite de Carvalho;
– Delaíde Alves Miranda Arantes;
– Douglas Alencar Rodrigues;
– Guilherme Augusto Caputo Bastos;
– João Batista Brito Pereira;
– Kátia Magalhães Arruda;
– Lelio Bentes Corrêa;
– Maria de Assis Calsing;
– Mauricio José Godinho Delgado;
– Renato de Lacerda Paiva
Dos 15 do Superior Tribunal Militar, são 3:
– Artur Vidigal de Oliveira;
– José Coêlho Ferreira;
– Francisco Joseli Parente Camelo