Belém, cidade que carrega nas margens de seus rios a força e a história da Amazônia, se prepara para receber a COP 30 — a mais importante conferência mundial sobre mudanças climáticas. Em 2025, os olhos do planeta estarão voltados para a capital paraense, e junto com esse protagonismo, emerge uma pauta que não pode mais ser ignorada: a centralidade dos povos indígenas no enfrentamento da crise climática.
Falar em sustentabilidade na Amazônia é, inevitavelmente, falar dos saberes ancestrais. Povos indígenas, seringueiros, quilombolas, castanheiros e outras comunidades tradicionais vêm ensinando, há séculos, como é possível viver da e com a floresta, sem destruí-la. São práticas baseadas na observação atenta da natureza, no respeito ao tempo da terra e no entendimento profundo de que tudo está interligado. Para esses povos, conservar não é um gesto de sacrifício — é um modo de existência.
Sob a perspectiva da cosmovisão indígena, a natureza não é um recurso a ser explorado, mas um organismo vivo com o qual se estabelece uma relação de cuidado e reciprocidade. Essa forma de ver e estar no mundo desafia a lógica ocidental baseada na exploração desenfreada e propõe caminhos alternativos, mais justos e equilibrados. É essa sabedoria — milenar, silenciosa, invisibilizada por muito tempo — que hoje ganha força como horizonte possível para um futuro habitável.
Como parte dos preparativos para a COP 30, o Brasil promove os encontros COParente, organizados pelo Ministério dos Povos Indígenas e pela Funai. São espaços de escuta e articulação política para garantir que a presença indígena não seja apenas simbólica, mas efetiva e protagonista no evento. Pela primeira vez na história das COPs, haverá um Círculo dos Povos Indígenas e uma Comissão Indígena Internacional, marcos fundamentais no reconhecimento da importância desses saberes para o enfrentamento das mudanças climáticas.
Os dados não deixam dúvidas: terras indígenas na Amazônia são responsáveis por garantir o regime de chuvas que abastece cerca de 80% do agronegócio brasileiro. Em 35 anos, essas populações preservaram mais de 20% da vegetação nativa do país — sendo, paradoxalmente, as que menos contribuem com a emissão de gases poluentes e, ao mesmo tempo, as mais atingidas pelos desastres ambientais.
A ancestralidade, portanto, não é passado: é resistência, é tecnologia, é projeto de futuro. Escutar os povos originários é mais do que uma dívida histórica — é um ato de inteligência política e compromisso planetário. Em tempos de colapso climático, a Amazônia mostra que as respostas não virão apenas de painéis técnicos e acordos diplomáticos, mas também da roda de conversa à beira do rio, do canto ritual, do conhecimento que passa de avó para neto.
Que a COP 30, ao se enraizar em solo amazônico, seja mais do que uma conferência. Que seja um despertar.