Localizada na Travessa Quintino Bocaiuva, 589, no bairro do Reduto, a Casa de Música Eduardo Falesi tem se destacado por oferecer uma variedade de cursos regulares na área musical. Sua missão vai além do ensino, buscando educar e inspirar tanto os membros da comunidade comerciária quanto o público em geral a apreciar a música em sua plenitude.
Por trás dessa instituição, há uma história fascinante e pouco conhecida. Poucos sabem sobre a figura que empresta seu nome à casa de música: Eduardo Falesi.
Nascido em 1934, Eduardo Falesi teria completado 90 anos se estivesse entre nós hoje. No entanto, sua jornada foi interrompida de maneira precoce aos 42 anos, em 1976.
Vindo de uma família de migrantes italianos da Calábria, os Falesi estabeleceram-se como comerciantes em Belém no ano de 1896. Seu pai, Domenico Falesi, tornou-se proprietário de uma alfaiataria na rua João Alfredo, inaugurada em 1899. Eduardo cresceu em meio a seis irmãos.
Desde cedo, destacou-se por seu talento artístico singular. Eduardo não apenas dominava as nuances da música, mas também se destacava como um exímio artista visual e poeta.
É notável ressaltar que Eduardo enfrentava o desafio adicional de lidar com o diagnóstico de esquizofrenia. Esse aspecto torna suas realizações ainda mais admiráveis, pois ele conseguia superar barreiras e produzir arte de maneira excepcional, apesar das dificuldades com a doença.
No dia 29 de junho de 1966, em honra ao dia de São Pedro, o cônego Nelson Soares organizou uma programação especial na Igreja de Santana. O evento principal da noite foi o recital do renomado pianista Falesi, realizado às 21 horas. O jornal da época anunciou a presença ilustre do ‘mundo social paraense’ nesse acontecimento cultural.
O programa do recital foi composto por obras notáveis, incluindo a Sonata de Brahms e Prokofief, a Valsa Metafísica de Kodar, e duas Invenções, números 8 e 9, de autoria do próprio Falesi. Os ingressos para esse evento estiveram à venda em estabelecimentos comerciais como Cosmorama, Fábrica Palmeira e Odalisca Modas e Perfumarias, garantindo o acesso amplo do público interessado.
Outro marco significativo na trajetória de Falesi ocorreu em 1967, quando ele expôs seus desenhos no Centro Cultural Brasil Estados Unidos. Nessa ocasião memorável, além da exposição, Eduardo presenteou o público com um recital de piano, onde executou composições próprias e obras de renomados compositores como Cesar Frank.
Em suas obras artísticas, é forte a presença da temática religiosa. Sua expressão artística poderia ter sido profundamente influenciada por suas experiências e convicções pessoais, pois em determinado momento de sua vida, sentiu-se compelido a seguir o caminho do sacerdócio. Ele ingressou no Seminário com a intenção de dedicar-se completamente a essa vocação religiosa. No entanto, por razões pessoais quanto a sua vocação, não conseguiu concluir seus estudos e seguir adiante nesse caminho.
Assim, as obras de Eduardo Falesi não são apenas reflexos de sua habilidade técnica e criatividade artística, mas também podem testemunhos de sua própria jornada pessoal, marcada pela busca espiritual. Essa dimensão adiciona profundidade e significado às suas criações, convidando o espectador a uma reflexão mais profunda sobre a vida, a fé e a arte.
O catálogo do Arte Pará de 1998, titulado “A ceia do milênio: coma deste pão, beba deste vinho”, traz Eduardo Falesi como artista convidado postumamente, e reconhecido como pintor surrealista.
A contribuição de Falesi para as artes plásticas no Brasil também é digna de nota. Seu nome figura no prestigiado Dicionário das Artes Plásticas, destacando-o como um pintor de relevância em seu tempo. Sua participação nos Salões de Artes Plásticas da Amazônia, nos anos de 1963 e 1965, evidencia seu papel ativo e reconhecido na cena artística regional.
E o tributo significativo ao seu legado é a homenagem prestada com o nome da Casa da Música do SESC Pará, um reconhecimento que ressoa com sua influência multifacetada nas artes. No entanto, apesar de suas realizações marcantes, é lamentável observar que poucos hoje recordam sua existência e suas contribuições notáveis.
Essa falta de reconhecimento lança luz sobre a importância de preservar e celebrar a memória dos artistas que moldaram e enriqueceram a cultura paraense. A história de Eduardo Falesi é um lembrete vívido da necessidade contínua de relembrar e valorizar as figuras que deixaram uma marca indelével em nosso patrimônio artístico e cultural.