A história oficial aponta o dia 22 de abril de 1500 como a data do descobrimento das terras brasileiras. Essas histórias estão registradas em documentos oficiais como a carta do achamento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha, e outros textos compilados na literatura de informação do Século 16. Alguns autores, estudiosos dos cronistas do século XVI, como Antônio C. Olivieri e Marco A. Villa (Cronistas do Descobrimento, Ed. Ática, 2009), fazem uma releitura dessa literatura da informação, discutindo os textos oficiais, religiosos, como os de José de Anchieta, de viajantes secundários das Naus e, até, de ilustres nobres e desconhecidos que por aqui passaram e deixaram registradas as suas impressões, desvelando algumas de suas contradições.
Nesses escritos acha-se uma variedade de informações, como por exemplo, que a população indígena, à época, poderia alcançar entre 1 milhão e 5 milhões de pessoas. Eles se preocuparam também em descrever seus hábitos e costumes. Os textos oficiais os trataram como “bon souvage”, enquanto outros, como a “Viagem à terra do Brasil”, de Jean de Léry, mostra que nem tudo eram flores, ou simpatia e cortesia! Os nobres visitantes poderiam correr o risco de virar o prato do dia pelos canibais que cá habitavam.
Nos dias de hoje os dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística informam uma população de 817 mil pessoas (em torno de 0,4% da população brasileira, contada no Censo de 2010), espalhados de Norte a Sul.
O que mudou muito também foram os hábitos; muitos deles assimilados do contato e da miscigenação com europeus, africanos e os tardios asiáticos, que também fizeram do continente sul-americano a sua morada. À semelhança dos brancos, os índios também passaram a fazer Jogos Olímpicos para celebrarem o encontro de diversas etnias e tentarem manter as suas tradições de jogos típicos das diversas tribos. Uma tentativa de conectar-se com a sua própria identidade, que se esvanece da mesma forma que, aqueles que se declaram índios no Censo, desaparecem.
Outro costume também assimilado dos brancos foi o amor ao “vil metal”! Diferentemente do passado, que se trocavam as riquezas da terra por espelhos e bugigangas, hoje se trocam as muitas toneladas de minerais pela moeda do comércio internacional, o dólar. Reservas indígenas estão tomadas de empreiteiras internacionais, escavando a terra, retirando dela o metal em toneladas, sob a guarda e vigilância dos sistemas de câmeras eletrônicas instaladas nas reservas indígenas, onde o Estado brasileiro não entra, mas entra o capital internacional, que faz sangrar a terra com as gigantes mineradoras.
Todo dia ainda é dia de índio, mesmo que seja para continuar, como nos tempos de outrora, sangrando a terra para entregar o “ouro” aos “bon souvage” do lado de lá… No velho Rio Amazonas não circulam mais as canoas, mas os grandes graneleiros atulhados de soja, ferro, manganês, madeira da floresta, valiosos elixires extraídos de plantas e animais, transatlânticos, gigantes dos mares, empilhados de contêineres estufados com os produtos da “Manaus Free Zone”.
Como nos tempos dos cronistas do descobrimento, difícil ainda é contar essa história, ou estória. Discordando da Baby do Brasil, digo: todo dia ainda é dia de índio. Hoje somos todos índios do lado de cá, mesmo que no Censo insistimos em nos distinguirmos pela cor da pele.
Curta nossa Página no Facebook!
Fonte: Diário de Uberlândia.