Humilhados e massacrados por um desastre ambiental sem precedentes. É assim que os moradores do Curuperé-Miri, região localizada na fronteira entre as cidades de Abaetetuba e Igarapé-miri, estão se sentindo desde que a multinacional Minerva Foods se instalou no local, há sete anos. As famílias protestam contra a poluição dos rios e igarapés, causada pela empresa especializada na criação de gado para exportação.
Segundo os manifestantes, a poluição causada por toneladas de fezes e urina de gado despejadas no Rio Curuperé exterminou com todo a fauna e a flora do local. Não há mais vida nos rios e a população, que antes vivia do que a natureza proporcionava, agora é obrigada a utilizar a água contaminada.
ita como um dos sócios – possui uma fazenda às margens do rio Curuperé, próximo a áreas onde residem ao menos 180 famílias de comunidades quilombolas e ribeirinhas. No espaço são mantidas, em média, de 20 a 25 mil cabeças de gado diariamente. De acordo com os moradores, a fazenda não está adequada para o tratamento das 200 a 270 toneladas de material que são expelidos diariamente pelos animais, despejando todo este conteúdo diretamente no principal rio da região.
A fazenda está localizada numa posição de declive em relação às comunidades e os dejetos lançados no rio Curuperé vão parar diretamente em pelo menos três igarapés (igapó-açu, bacuri, cataiandeua) que serviam para a subsistência das comunidades.
“O forte odor de fezes e urina é insuportável, se sente há quilometros de distância. Não existe mais nenhum tipo de vida no local. Onde antes havia peixes, onde as pessoas retiravam água para beber e tomar banho, hoje não passa de um líquido pastoso e esbranquiçado”, disse uma denunciante que por medo prefere não se identificar.
A Minerva Foods é a segunda maior empresa de carne bovina do Brasil, comercializando os produtos para mais de 100 países. Morador mostra o nível de poluição causado pela atividade (Foto: Via/WhatsApp)
Revoltados com a morte da principal fonte de subsistência, as famílias decidiram bloquear a entrada da empresa, na rodovia PA-151, que liga Igarapé-Miri a Barcarena, não deixando o gado saír do local. Cerca de 200 pessoas estão no local desde o final da tarde, e exigem que a empresa vá embora. Segundo uma das lideranças, que também não quis se identificar por medo de represálias, as famílias irão ajuizar uma ação na Justiça, pedindo reparos para despoluição do rio e igarapés, indenizações e o encerramento das atividades da empresa, que possui como um de seus sócios o príncipe da Arábia Saudita.
“O povo está há sete anos sofrendo o desastre. A minerva está acabando com tudo o que é deles. São três comunidades afetadas, cerca de 400 famílias. A fazenda deles pega todo Rio Curuperé. O povo está humilhado, massacrado. Eles viviam da agricultura, da pesca, da roça, são quilombolas e ribeirinhos. A água deles acabou. Ali está só fezes de boi. Empresa não os recebe, os trata pior do que os animais”, relata a liderança.
A reportagem tentou entrar em contato com a empresa por telefone durante a noite, mas as ligações não foram atendidas.
Fonte: DOL