A senadora Kátia Abreu (PDT-TO), vice de Ciro Gomes na campanha presidencial deste ano, declarou que irá votar em branco ou nulo no próximo domingo (28), “Não aconselho isso à população. Que cada um faça as suas escolhas. Mas, como senadora que tem a obrigação de fiscalizar o Executivo, se nenhum dos dois projetos calam no meu coração, eu me dou o direito de ficar neutra, independente e aguerrida na defesa das causas do povo brasileiro”, disse no Senado.
À Coluna ela explicou que o motivo maior é a questão fiscal, para ela prioritária ao País: “não estou vendo muita consistência no projetos de ambos [Bolsonaro e Haddad]”. A pedetista também declarou que irá ter posição neutra nos próximos quatro anos no Senado. Independente do governo eleito irá votar por projeto, de acordo com as suas convicções.
A senhora não será nem oposição nem situação no próximo governo, como disse essa semana no Senado?
— Como o meu projeto não foi aprovado nas urnas eu farei uma posição crítica, independente. Se eu concordar com o projeto voto a favor, se achar que é melhor para o País. Se não voto contra. Mas eu votaria assim até se estivesse no governo. Se for ajudar o Brasil estou pronta para ajudar o Brasil. Todo mundo sabe quais as minhas propostas pois subi no palanque e talvez um dos meus defeitos seja ser tão transparente.
Mas a senhora já esteve contra o próprio partido, no caso do impeachment da Dilma. Há então uma continuidade de conduta?
— Fico doida para votar a favor. Porque signfica que as coisas estão indo como eu gostaria. Então não fico torcendo para o contra. Ao contrário. Votar contra determinados assuntos não tenho nenhuma dificuldade, porque farei o que defendo para o Brasil.
A senhora teme em um eventual governo Bolsonaro riscos à democracia, às liberdades individuais?
— As reações que tiveram em relação as falas do filho dele [Eduardo Bolsonaro sugeriu o fechamento do STF], em seguida com com carta e pedidos de desculpas isso deu uma mexida boa, uma prévia da reação popular, teve queda nas pesquisas. Isso tudo é consequencia dessa fala. Se tivesse mais tempo de campanha ele poderia até perder a eleição e perder mais pontos. Porque o Brasil está sinalizando com isso que não quer o fim da democracia, não quer ditadura. Quer eficiência, desenvolvimento, emprego, mas não quer retrocessos. Eu confio nas instituições e no próprio Exército brasileiro, que tem um papel fundamental e quer ser prestigiado, coisa que há muito tempo não é. Não vai se chegar a extremos. Acho que não tem ambiente para isso não [medidas anti-democráticas].
Como a senhora acha que será o Congresso em relação ao novo governo?
— A Câmara está sendo mais discutida, as análises são de que a Câmara está mais conservadora. No Senado não sabemos porque são 46 senadores novos, apesar de haver deputados que viraram senadores que conhecemos. Então são muito poucos que conhecemos e precisamos saber como irão votar. Porque sendo direita ou esquerda há ideias em questão então temos que aguardar. A Câmara é mais pró-Bolsonaro, até pela bancada do partido dele, bancada ruralista, evangélica, centrão que está se acomodando ali é mais centro direita mesmo. Não tenho dúvida. Senado, temos que aguardar um pouco, porque é muito gente nova.
Por que alguns caciques da política ficaram de fora do Senado, na sua opinião?
— Na Câmara a renovação foi maior, a maior de todos os tempos, então quem estava no mandato sofreu muito porque as campanhas ficaram muito fortes nas redes. Então quem não conhece preferiu não votar em quem conhece, e teve muita conversa, muito fake news então os eleitores resolveram trocar tudo.
A senhora votará a favor da reforma da Previdência?
— Se for como estão prometendo de passar de repartição para capitalização, como Ciro Gomes foi o primeiro a propor e mexer na idade, respeitando, mulheres, trabalhadores rurais, professores, policiais, sou a favor. Primeiro que quem se eleger vai se eleger legitimamente para fazer uma mudança dessa gravidade, terá apoio, Haddad ou Bolsonaro. Então nesses padrões, como o Ciro propôs, votarei com certeza [pela reforma].
Por que a senhora irá votar branco ou nulo para presidente?
— Minha maior preocupação, número um, dois e três é a questão fiscal. Não estou vendo muita consistência no projeto de ambos. Solucionando a questão fiscal, soluciona tudo. Melhora segurança pública. Se não arrumar o fiscal não tem dinheiro para nada. A questão fiscal é de sobrevivência do país. Com a questão da pirâmide demográfica, se a gente não tapar o buraco hoje [da previdência], amanhã está aberto. Não é só a previdência que causou o buraco. Mesmo que a gente consiga 150 bilhões para tapar o buraco, se não resolver o problema da previdência amanhã tem buraco de novo. Questão do armamento por exemplo, isso é confeito do bolo. Isso não é o essencial. É ter recursos para investimento para as pessoas terem emprego e trabalho. O armamento é em questão da segurança pública porque as pessoas estão inseguras. Não é para sair por aí atirando nos outros não. Já passei isso quando morava sozinha na roça. Se tivermos uma questão fiscal resolvida não vai faltar dinheiro para as polícias nos Estados, que estamos em defasagem. Precisamos de gestão e dinheiro.
Durante o processo eleitoral, Ciro Gomes tentou atrair os demais partidos da esquerda para um candidatura única, mas foi vencido. Apesar dos bons resultados no primeiro turno, com mais de 13 milhões, ele preferiu ficar neutro até o momento e tirou um período de descanso na Europa. O candidato volta nesta sexta (26) ao Ceará e o candidato Fernando Haddad termina a sua campanha com um giro pelo Nordeste.
Kátia Abreu foi expulsa do MDB por ter votado de forma contrária ao partido no impeachment de Dilma Rousseff. A senadora foi defensora da petista até o final. Filiou-se ao PDT de Ciro para disputar as eleições ao governo do Tocantins e depois foi escolhida vice.
Fonte: G1