O capital financeiro, ao multiplicar-se sem tocar a matéria-prima nem o suor do trabalho, depende necessariamente da extração da riqueza real produzida por trabalhadores, agricultores, pequenos comerciantes e servidores.
Como dizia Marx, “o capital não tem pés, precisa sugar o trabalho vivo”.
Dowbor mostra o paradoxo: rendimentos financeiros (7–9% ao ano) contra PIB “real” (2–3%).
O que significa isso?
Que a multiplicação de ativos, derivativos, títulos e dívidas não brota do nada, mas de um manancial finito de riqueza social. O dinheiro dos juros pagos ao detentor de títulos públicos, o lucro do especulador que gira papéis em bolsa, o dividendo exorbitante do acionista — tudo isso é retirado do mesmo corpo social: da produção material, da arrecadação tributária, do endividamento das famílias, da compressão salarial, do corte em serviços públicos.
Thomas Piketty crava em pedra a fórmula: r > g. O retorno do capital (r) supera estruturalmente o crescimento econômico (g). Mas essa desigualdade não é uma equação abstrata; é o registro contábil da espoliação. Se a riqueza total cresce 3% e o capital exige 9%, a diferença é uma sangria: ou se retira do bolso da classe trabalhadora, ou se impõe como austeridade, privatização, precarização. É um jogo de soma zero, porque a riqueza é limitada pela capacidade de produção material e de regeneração da natureza.
Portanto, ao perguntarmos “quem perde e quem ganha?”, a resposta é cristalina:
Ganham os detentores do capital financeiro, rentistas e investidores que vivem da renda e não da produção.
Perdem a democracia, que se curva ao poder dos credores; a equidade, que vê o fosso entre ricos e pobres alargar-se; e a justiça social, que é adiada em nome do “compromisso com o mercado”.
Financeirização é o nome técnico do saque porque não redistribui, apenas concentra.
Não é motor de desenvolvimento, mas mecanismo de drenagem. O dinheiro que se multiplica nos balanços de fundos e bancos é sempre, em última instância, a apropriação de uma riqueza social já existente, criada por trabalhadores e comunidades, mas privatizada sob a forma de juros, lucros e dividendos.
Eis o cerne: sem trabalho não há riqueza; sem matéria-prima não há valor.
O capital financeiro vive do que não produz, cresce sobre o que não cria. Como dizia Rosa Luxemburgo, “a acumulação capitalista precisa expandir-se incessantemente, devorando tudo o que encontra pela frente”. Essa expansão sobre um mundo finito é a fórmula da desigualdade eterna e da crise permanente.