Em comemoração ao Dia Internacional da África, Alepa é palco de anúncio da instalação do Memorial da Escravidão no Pará

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Em comemoração ao Dia Internacional da África, Alepa é palco de anúncio da instalação do Memorial da Escravidão no Pará
A Alepa foi palco da apresentação do projeto do Memorial da Escravidão do Estado. Foto: Ozeas Santos - AID Comunicação Social

Em comemoração ao Dia Internacional da África, o Palácio da Cabanagem da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) foi palco, nesta quinta-feira (23), da apresentação do projeto do Memorial da Escravidão do Estado. O espaço será inaugurado no dia 20 de novembro de 2024 como parte da comemoração pelo Dia Nacional da Consciência Negra, acompanhado de um projeto arquitetônico de intervenção urbana assinado pelo arquiteto Luiz Guedes. A instituição funcionará em um casarão histórico localizado ao lado do Museu do Círio, na rua Padre Champagnat, no Complexo Feliz Lusitânia, em Belém.

Em comemoração ao Dia Internacional da África, Alepa é palco de anúncio da instalação do Memorial da Escravidão no Pará
Crédito: Ozeas Santos – AID Comunicação Social

Pelourinhos em Belém

O local foi escolhido por estar localizado entre os dois pelourinhos que existiram em Belém, anunciados após minuciosa pesquisa histórica. O primeiro Pelourinho de Belém ficava na praça da Sé, hoje praça Dom Frei Caetano Brandão, e o segundo onde hoje funciona o Mercado de Carne.

“O segundo foi construído porque o local de castigo e suplícios públicos que estava localizado às proximidades de igrejas e do percursos de procissões religiosas incomodava os religiosos e a elite da época”, explicou a pesquisadora Dra. Marley Antônia Silva da Silva, coordenadora da pesquisa sobre o local de desembarque de pessoas escravizadas no Porto de Belém.

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Crédito: Ozeas Santos – AID Comunicação Social

Memorial obra estrutural

Para o deputado Carlos Bordalo (PT), autor do pedido da sessão especial, a instalação do memorial da escravidão virá para recontar toda a história do tráfico negreiro transatlântico. “Tráfico que arrancou irmãos e irmãs da África, para serem escravizados em solo brasileiro e com muita expressividade para o Pará”. Ele considera que a instalação do museu será uma obra estrutural do governo Helder Brabalho.

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Crédito: Ozeas Santos – AID Comunicação Social
“Partimos para uma pesquisa onde o desafio foi saber onde as pessoas escravizadas desciam na orla de Belém durante o século XVIII e o XVIX”, historiou o titular da Secretaria de Estado de Igualdade Racial e Direitos Humanos (SEIRDH), Jarbas Vasconcelos. Para ele, o período da Belle Époque apagou da história as lutas dos povos da Amazônia, do povo paraense, como a Cabanagem, do Brigue Palhaço. “Com relação aos negros, foi extremamente perverso, nada de suas lutas, nem sequer se conservou o pelourinho e o local onde eles desceram vindo da África”, disse.

Pará é o segundo Estado mais negro do Brasil

Segundo as pesquisas, desceram cerca de 143 mil pessoas escravizadas vindas de Cacheu – Guiné-Bissau, de Benguela e de Luanda – Angola. “O que justifica ser o Pará o segundo estado mais negro do Brasil, perdendo apenas para o Amapá”, diz Jarbas. O terceiro com maior população negra é o Estado do Maranhão. “O que prova que o Grão Pará (que reunia no Brasil Colônia os territórios do Amazonas, Pará, Amapá e o Maranhão) não era um Grão Pará português, branco, europeu, mas um Grão Pará Negro”, finaliza o secretário.

Crédito: Ozeas Santos – AID Comunicação Social

Compromisso do Estado com o povo preto

Na oportunidade, Úrsula Vital, secretaria estadual de Cultura, repassou publicamente à SEIRDH a coordenação e o processo de implementação do Museu da Consciência Negra em um Casarão localizado na Travessa 13 de Maio. “Demonstrando e reafirmando o compromisso do Estado com a reparação histórica, com a valorização das tradições, da memória, das práticas culturais do povo preto, do povo negro”, falou.

Reparar é mudar as condições de vida dos negros

Para o Baba Edson Catendê, representante do Povo Tradicional de Matriz Africana, reparar não é só reconhecer a memória. “Mas, mudar as condições de vida que a população negra vive no mundo, porque somos espoliados, não temos uma identidade respeitada, as tradições não são reconhecidas, e a nossa religiosidade é apagada e invisibilizada”. Ele pediu políticas públicas que reconheçam e dialoguem com a comunidade negra para saber o povo demanda.

Enegrecer o espaço legislativo

Por último, discursou a mais aplaudida entre os presentes, a professora Zélia Amador de Deus, fundadora do Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará (Cedenpa), a entidade mais antiga no Pará na defesa do povo negro.

Ela agradeceu o deputado Bordalo pelo esforço constante de lutar para enegrecer o espaço legislativo, “que no Brasil é branco”, e comemorou o Dia Mundial de África. A professora lembrou aos presentes que os negros contribuíram muito com a cultura ocidental.

“Somos ainda negados, espoliados, diminuídos, segregados, mas construímos esse país, que é nosso, mas que sempre nos escondeu, silenciou nossas vozes, histórias e memórias”, afirmou Zélia. Ela considerou como relevantes os esforços do Estado e do Poder legislativo em construir espaços para se falar da escravidão, “até para não repetirmos os erros sobre a iniquidade e a violência aos nossos antepassados”, concluiu.

Reconhecimento

Ao final da sessão, 15 personalidades e representantes de entidades ligadas à luta dos negros receberam um certificado de reconhecimento pela atuação em defesa da população negra, ao combate ao racismo e promoção da Equidade Racial.