Até quando ?
Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram
meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei.
No terceiro dia vieram
e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar…
Martin Niemöller, Teólogo protestante alemão preso pelo nazismo.
Amigas e amigos,
Diante das recorrentes atitudes do governo do estado que, mesmo nesse momento de grande tristeza, sem respeitar as perdas e o sofrimento da população, acabam revelando um doentio e abominável desejo de exercer um poder absoluto, ainda que para tanto tenha que esconder e desvirtuar a realidade e os fatos; desrespeitar leis e instituições; destruir reputações e vidas, lembrei da citação acima, alertando que “Para que o mal triunfe, basta os bons ficarem de braços cruzados.” (Edmund Burke)
Inegavelmente, poucas vezes vivemos tempos tão desafiadores. A pandemia, ao tempo que assusta e fragiliza as pessoas física e emocionalmente, silenciosamente, também corrói os pilares da economia, esgarça o tecido social, e expõe as fraturas de um sistema político partidário carcomido e corrompido, no qual alguns representantes que dele se beneficiam, tentam a todo custo ampliar seu poder e riqueza, temendo um futuro adverso.
Assim, tenho observado, com preocupação, que o atual grupo no poder, sem descer dos palanques, continua a utilizar a mesma estratégia, métodos, práticas e instrumentos da campanha, inclusive veículos de comunicação que são concessões públicas, para consolidar um projeto de poder familiar e autoritário de apropriação e domínio do Estado. E para isso, sem qualquer escrúpulo, cria e difunde mentiras com objetivo de intimidar adversários e manipular a população, fortalecendo a velha política.
Para tanto, basta ver as ultimas operações da polícia estadual nas residências de reconhecidos e respeitados jornalistas e profissionais de marketing, sem falar nas ações contra conhecidos blogueiros, paralelamente as nitidamente artificiais manifestações de apoio ao governador, em decorrência da recente ação da Polícia Federal na sua casa.
Nesse cenário, com tristeza, vimos hospitais que poderiam ter funcionado e salvado vidas desde o início do ano passado, a exemplo do Abelardo e o de Capanema, serem mantidos inoperantes por capricho do “chefe”, sob o olhar de um parlamento, na sua quase totalidade silencioso e obediente. Por pura politicagem e certeza de impunidade, vimos a Policlínica, os Regionais de Itaituba e Castanhal, deixados em fase de acabamento, só receberem atenção quando a pandemia já havia ceifado milhares de vidas.
Sem maior sentido a não ser arrogância e prepotência, numa hora em que humildade união e solidariedade deveriam ser palavras de ordem, assistimos crises de verborragia midiática e inaceitável politização da pandemia, com objetivo de criar uma imagem de poder e auto-suficiência, típica daqueles cuja a vaidade supera a inteligência.
Consequentemente, ao invés da conclamação do governo federal, dos municípios e da iniciativa privada, para organizar o sistema de saúde e enfrentar o vírus, vimos um governo que preferiu a velha pratica de transferir para outros a responsabilidade sobre seus erros, e prometer centenas de leitos de UTI e milagrosos Hospitais de Campanha, além de embarcar no oportunismo de olhar
até remédio como “objeto político”. Enquanto a rede de hospitais públicos, criada nos últimos governos, é tratada com desatenção e só funciona, sobretudo, graças ao esforço de milhares de profissionais de saúde, que tem sido os verdadeiros heróis dessa guerra.
Emoldurando tudo isso, alimentada pela expansão dos gastos em propaganda, uma imprensa na sua quase totalidade subserviente e controlada, bombardeia a população com o discurso oficial, que esbanja autopromoção, oportunismo e autoritarismo, minimizando o dramático crescimento no número de mortes, especialmente no interior.
Em face disso, as redes sociais, com todos os problemas naturais de qualquer nova experiência humana, ainda que agravados pela incompreensão de alguns de que a vida em sociedade exige que cada cidadão se imponha limites, assumem papel fundamental para o exercício democrático e o controle social, despontando como fonte quase solitária da informação não censurada pelo crivo oficial, e voz daqueles que não se vêem representados por um parlamento apático e vergonhosamente emudecido.
E aqui parece residir a razão das recorrentes medidas repressivas e tentativas de controle da informação por parte do Governo Estadual, como a mal engendrada lei estadual das “Fake News”, e a frequente utilização desrespeitosa da polícia do estado, com o objetivo de transforma-la em polícia do governador. Substituindo a nobre missão de defender a sociedade, pela mesquinha e covarde tarefa de perseguir desafetos.
Foram as redes sociais que permitiram a população , não apenas tomar conhecimento do maior e mais deslavado conjunto de escândalos sobre a utilização do dinheiro público no Estado em tão pouco tempo. Foram alguns corajosos inter-nautas que repercutiram os desmandos do governo e revelaram fatos importantes, que acabaram contribuindo para as operações da Polícia Federal, que fundadas em contundentes e vergonhosas informações amplamente divulgadas nacionalmente, já chegaram no Palácio do Governo e na casa do próprio governador.
Assim, calar as mídias sociais é se vingar daqueles que ousaram dizer pra população que o “rei está nu”. É evitar novas denúncias. É garantir que “está tudo dominado”, logo “manda quem pode e obedece quem tem juízo”.
Amigas e Amigos,
Como acreditar que a real preocupação do governo é combater “fake news”, quando o “twitter” da Secretaria da Saúde do Estado, no auge da pandemia e no meio do escândalo da “compra de respiradores inadequados e superfaturados”, faz a seguinte publicação, que estranhamente desaparece, quando não mais foi possível esconder a verdade.
Como acreditar que o objetivo do governo é o desejável e necessário combate as “fake news”, quando o próprio governador, ao ser acusado de ter alugado ambulâncias pelo preço absurdo de R$ 245 mil por mês, sem poder negar a veracidade da acusação, publica no seu twitter que a prefeitura de Belém teria gasto R$ 334 mil. Sem dizer que o valor pago pela prefeitura se refere ao aluguel de 9 ambulâncias por 6 meses, o que representa um gasto mensal por ambulância de
6 mil reais, ou seja, 40 vezes menor que o aluguel pago pelo Estado.
Seria até cômico, se não fosse trágico, lembrar como mesmo antes da palavra “fake news” estar na moda, os veículos de comunicação do atual governador e sua família, usaram amplamente a foto de uma criança numa caixa de sapatos feita em um hospital de Honduras, como sendo na nossa Santa Casa.
Quem não lembra das repetidas tentativas de desestabilizar nossos governos, feitas por esse mesmo grupo, que além de publicar notícias falsas, criava fatos para incitar a desordem e violência.
Exemplos não faltam pra demonstrar que por trás de uma legítima e necessária proteção da sociedade, o que estamos vivendo, aqui no Estado, com a omissão de uns, conivência e conveniência de outros, é o progressivo e perigoso aparelhamento das instituições por parte dos que se pretendem donos do Pará, com o objetivo de servir propósitos nada republicanos, perseguindo quem lhe desagrada, e calando qualquer voz dissonante.
Amigas e amigos,
Só não vê quem não quer. Não é de hoje que esse grupo vem se utilizando de todos os meios para enganar a população, intimidar e, segundo inclusive até noticiado, chantagear pessoas para fazer valer sua vontade e atender uma insaciável fome de riqueza e poder. É assim com jornalistas, com blogueiros, com políticos, com qualquer um que não lhe seja servil.
Em recente, corajoso e histórico parecer em investigação judicial eleitoral-AIJE sobre abuso de poder econômico e uso indevido e desvio de meios de comunicação, ajuizada pela Coligação em Defesa do Pará contra o então candidato a Governador Helder Barbalho, reascendendo a esperança das pessoas de bem em uma nova ordem política, diz o Ministério Público Eleitoral:
“Além do tratamento privilegiado nos meios de comunicação da família, o candidato Helder Barbalho e a sua Coligação Partidária não hesitaram em lançar mão do estratagema de criação e disseminação em seus veículos de comunicação de fato político falso (fakenews política) contra os seus adversários na campanha 2018 e, como se não bastasse, fizeram o uso ilegítimo e espúrio do Sistema de Justiça Eleitoral – Polícia Federal, Procuradoria Regional Eleitoral e Tribunal Regional Eleitoral – mediante a provocação de instauração de procedimentos extrajudiciais de investigação ação judicial eleitoral, com o intuito abjeto de realizar a divulgação nos veículos de comunicação do conglomerado de fatos inverídicos que prejudicavam e desabonavam os seus adversários políticos;”
E complementa:
“Em face do exposto, desses fatos e circunstâncias, resta configurado e caracterizado o abuso de meios de comunicação social e o abuso de poder econômico, na medida em que os veículos de comunicação de massa com influência em todo o Estado do Pará, e até fora dele, composto por televisão, rádios, jornal impresso e eletrônico, sítios na internet e redes sociais, foram utilizados deliberadamente com a finalidade de beneficiar o candidato Helder Barbalho, inclusive com a disseminação de fakenews política.”
Amigas e amigos,
Para os que acham que “isso é do jogo político “, fica a responsabilidade de explicar e defender como fazer fortuna e se tornar dono de rádio, jornal, TV, apenas com salário ou remuneração do setor público e ainda, ironicamente, utilizar tais veículos para manipular opiniões e se manter no poder, enganando as pessoas. Imagine se todos os governantes seguissem esse caminho. Para os que tentam justificar o vale tudo por julgarem que todo político é igual, é bom não esquecer que os sem caráter usam uma velha prática, especialmente na política, de “colocar rabo de palha em quem não tem, pra poder tocar fogo”.
Para todos que querem um mundo melhor, é sempre bom lembrar o pequeno texto que abre essa postagem.
A sociedade é resultado do comportamento de seus membros. Estamos vivendo uma enorme inversão de valores, a ponto de algumas “autoridades”, que deviam estar presas estarem mandando prender, entretanto, é bom lembrar que conforme já foi exaltado, se não podemos mudar o passado, pelo menos, podemos fazer um novo futuro.
Depende de nós.
Simão Jatene