Haddad repete em sabatina acusação equivocada feita por músico que chamou Mourão de ‘torturador’

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O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, disse nesta terça-feira (23) que o general Hamilton Mourão, candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), foi um torturador durante o regime militar. A afirmação de Haddad é falsa e foi baseada em uma declaração do cantor e compositor Geraldo Azevedo, que já se desculpou pelo erro.

Haddad participou de uma sabatina no Rio de Janeiro organizada pelos jornais “O Globo”, “Valor Econômico”, “Extra” e pela revista “Época” (veja como foi).

O candidato do PT disse: “[Bolsonaro] é figura desimportante no meio militar. Mas o Mourão, por exemplo, foi ele próprio torturador. Geraldo Azevedo declarou até num show que foi pessoalmente torturado pelo Mourão. Ao ver um torturador a par de uma figura como Bolsonaro, eu acho que deveria causar temor nos brasileiros minimamente comprometidos com o estado democrático de direito”. Depois, mais à frente na sabatina, Haddad disse: “Eu nunca vi o Lula pronunciar essa palavra [fascista] pra se referir a ninguém, eu mesmo nunca pronuncei antes do Bolsonaro. E o Bolsonaro, você me desculpe, mas eu, como cientista político, tenho direito de dizer que ele é. Ele tem como vice um torturador, que é o Mourão, ele tem um torturador como ídolo, que é o Ustra”.

Em um show na Bahia no último fim de semana, Azevedo disse que foi preso duas vezes na ditadura e que foi torturado em 1969. Segundo o artista, o general Hamilton Mourão era um dos torturadores. “Olha, é uma coisa indignante, cara. Eu fui preso duas vezes na ditadura, fui torturado. Você não sabe o que é tortura, não. Esse Mourão era um dos torturadores lá”, disse o cantor, no show.

Em 1969, ano em que Azevedo disse ter sido torturado, Mourão tinha 16 anos e era aluno do Colégio Militar em Porto Alegre. Ele só ingressou no Exército em 1972.

Além disso, no relatório final da Comissão Nacional da Verdade, publicado em 2014, não há qualquer menção ao general. O documento foi resultado de um trabalho que colheu mais de mil depoimentos e realizou 80 audiências e sessões públicas pelo país.

Após a repercussão do caso, a assessoria de Geraldo Azevedo divulgou nota na qual o músico se desculpou pelo “equívoco”:

“No último fim de semana, Geraldo declarou em um show no interior da Bahia que o general Mourão era um dos torturadores da época de suas prisões. No entanto, o vice-presidente do candidato Jair Bolsonaro não estava entre os militares torturadores. Geraldo Azevedo se desculpa pelo transtorno causado por seu equívoco e reafirma sua opinião de que não há espaço, no Brasil de hoje, para a volta de um regime que tem a tortura como política de Estado e que cerceia as liberdades individuais e de imprensa”, diz o texto da nota.

Em entrevista ao Blog da Andréia Sadi depois da declaração de Haddad, o general Mourão disse que “cabe processo” contra o cantor e acusou o candidato do PT de “fake news”.

Segurança pública

Durante toda a sabatina, Haddad respondeu a perguntas de seis jornalistas. Ele apresentou proposta na área da segurança pública. Ele defendeu dobrar o contigente da Polícia Federal.

O petista também criticou a proposta de Bolsonaro de facilitar o acesso a armas pelo cidadão comum. Segundo ele, a proposta é “demagógica” e não deu certo em nenhum lugar do mundo.

“Minha proposta é uma proposta de fácil compreensão. Eu quero dobrar o contingente da polícia federal e quero como governo central assumir parte das responsabilidades que hoje são dos estados, para liberar as forças estaduais para proteger o cidadão. Hoje, o Estado, as forças do estado, polícia militar e polícia civil estão sem foco. Nós precisamos criar o sistema único de segurança pública e passar a fazer a gestão deste sistema também centralizadamente. A União vai ter que assumir certas responsabilidades com a segurança pública”, afirmou.

Aumento de pena para corruptores

Haddad disse ainda que se eleito, vai propor penas maiores para corruptores. Ele criticou o fato de delatores estarem “em casa, gozando o patrimônio”.

“Ninguém é contra prender empresário corrupto. Aliás, sou contra a maneira como foram tratados. Estão todos em casa, gozando o patrimônio. Se eu for eleito, o corruptor vai ter pena aumentada, porque ele é o elo forte da cadeia da corrupção”, afirmou o candidato.

“Ele tem que ser mais severamente punido, porque não pode ter redução de 80%, 90% da pena”, completou Haddad.

O candidato criticou investigações que, segundo ele, com base em depoimentos de delatores sem provas acusam pessoas com “30 anos de vida pública”.

Haddad afirmou que, quando reconhece erros nas investigações, defende em público até mesmo políticos de partidos adversários. “Eu já saí a público para defender tucano”, disse. “Honra não tem partido”, completou o candidato.

‘Rebotalho da ditadura’

Haddad insistiu nas críticas ao adversário, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro.

Em mais de uma ocasião, o petista acusou o adversário de ter ideias “fascistas” e de representar um “grande retrocesso” à democracia do país.

Para Haddad, Bolsonaro é um “rebotalho da ditadura” que, se eleito, trará consigo o que “sobrou dos porões”, em referência a militares que participaram de tortura a presos políticos durante o período de ditadura militar.

“O Bolsonaro, você me desculpe, eu tenho direito de dizer que ele é [fascista]. […] Ele tem como ídolo um torturador, que é o Ustra. Isso é fascismo. Se quiserem dar outro nome, fiquem à vontade”, reclamou Haddad.

O petista também afirmou que a candidatura de Bolsonaro representa um “neoliberalismo desalmado” que, segundo ele, quer se “livrar do patrimônio público” a qualquer custo, somado a um “fundamentalismo charlatão”, em referência ao apoio que Bolsonaro tem recebido de setores conservadores da sociedade. “Quem fica mentindo, não pode ser cristão”, disse.

Conteúdo falso na internet

Haddad também criticou a campanha do adversário e voltou a acusar Bolsonaro de promover a divulgação de conteúdo falso a seu respeito na internet.

Ele também citou a reportagem do jornal “Folha de S.Paulo” que, no último dia 18, relatou casos de empresas apoiadoras de Bolsonaro que supostamente compraram pacotes de disparo de mensagens contra o PT por meio do WhatsApp.

“Eu acredito que se não fosse a reportagem da ‘Folha’, a gente não compreenderia até hoje [o impacto das ‘fake news na campanha’. […] Aquela reportagem incomodou ele tanto que deve ter uma boa dose de verdade ali”, afirmou Haddad.

“Acho que cometemos um erro estratégico porque não pensamos que eles iriam usar o expediente do WhatsApp para obter financiamento ilegal de campanha. Não contei com isso mesmo. O que aconteceu no primeiro turno não tem nada a ver com legislação eleitoral. Estamos falando do novo Caixa 2. Estão driblando o velho caixa 2 e criando um novo”, acusou Haddad.

Exploração do pré-sal

Haddad foi questionado se cancelaria leilões já marcados para exploração do pré-sal. Ele afirmou que leilões a partir de 2019 devem ser assunto do novo governo, e não do atual.

“Próximo ano não é papel deste governo definir. É governo eleito”, respondeu Haddad.

O candidato afirmou que defende modelos diferentes para os leilões, a depender do caso. Para Haddad, o modelo deve ser de um quando houver menos riscos e mais garantias de extração do petróleo, e outro quando as perspectivas de explração forem menores.

“Onde você sabe que tem petróleo, que não há risco na perfuração, o modelo é um. Onde o risco é enorme, o tipo de acordo que você vai fazer é outro. Isso é assim no planeta inteiro”, argumentou.

Em setembro, foi realizada a quinta rodada de leilões do pré-sal sob o modelo de partilha. Nesse modelo, as empresas vencedoras são as que oferecem ao governo, a partir de um percentual mínimo fixado no edital, o maior percentual de óleo excedente da futura produção. O excedente é o volume de petróleo ou gás que resta após a descontados custos da exploração e investimentos.

Outro modelo que pode ser utilizado para os leilões é o de concessão. Nele, o governo o governo recebe mais dinheiro à vista. No futuro, recebe royalties sobre a produção, e não um percentual fixo sobre o excedente.

Gás de cozinha e Bolsa Família

Também foi tema da sabatina o subsídio do governo federal para o preço do óleo diesel nas refinarias. A medida foi tomada pelo governo do presidente Michel Temer, no fim de maio, em meio às negociações para encerrar a greve dos caminhoneiros.

De acordo com Haddad, parte do subsídio deveria ser usada também para baratear o preço do gás de cozinha. No fim de semana, em ato de campanha no Maranhão, ele já havia falado sobre diminuir o preço do botijão de gás.

“A conta da Petrobras já tem uma conta de subsídio que foi implementada agora recentemente, depois da crise dos caminhoneiros. Então, essa conta do subsídio, na minha opinião, uma parte tem que ir para o gás de cozinha. É um valor muito menor para o que você precisa e que vai atender uma população que hoje está cozinhando à lenha porque não tem mais poder de compra para comprar o gás”, disse o candidato.

Ele ainda foi questionado sobre a proposta de reajustar o valor do benefício do Bolsa Família em 20% e o impacto que o aumento teria nas contas do governo.

Segundo o candidato, o Bolsa Família pode ser um elemento de reaquecimento econômico e o reajuste de 20%, de acordo com Haddad, injetará dinheiro na economia.

“Os 20% do Bolsa Família seria uma antecipação de reajustes que nós teríamos que dar de qualquer jeito, mas eu acho que a gente injeta dinheiro na economia, de quem vai consumir esses recursos num momento em que a gente está precisando gerar emprego”, explicou o petista.

Fonte; G1

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