Assisti o discurso de Trump ontem: pareceu um discurso nacionalista, do período 1950/60. Dirigido em grande parte à indústria fordista e aos desalentados trabalhadores americanos que viram seus empregos migrarem para China e Índia.
Vi um discurso dirigido aos americanos brancos e louros e patriarcalista, defendendo valores anti diversos. Anunciando fim das políticas de inclusão das minorias. Vi um discurso de viés ideológico denunciando uma crise nos EUA, num momento em que Biden deixa uma herança de baixo desemprego, a menor desde Roosevelt na década de 1940.
Vi discurso da velha política hegemonista e unilateralista, que vigorou até o fim dos anos de 1990. Vi Trump declarando “guerra” ao multilateralismo e a globalização multipolar. Vi Trump lutar contra a tendência global a cooperação num contexto de interdependência que independe de vontades impositivas unilaterais.
Vi Trump prometendo um governo baseado primeiramente e restritamente da economia local e de uma chantagem a aliados europeus, asiáticos e latinos. Vi um discurso de ódio aos imigrantes, como se os EUA não tivessem tido ganho com a chegada de imigrantes, e hoje não dependesse destes para os serviços que não exigem grandes qualificações técnicas.
Trump está prometendo um projeto ilusionista aos americanos, sacrificando uma estratégia baseada na interdependência estrutural ao mundo. Mas Trump vai fazer o que disse, mas o Estado americano corre grande risco de isolamento e de promover a corrida de aliados a conformarem novas estratégias de construção de blocos econômicos, culturais e tecnológicos que não venham a depender, tanto, do mercado americano.
Inicia-se uma guerra comercial, com grande sofrimento para as economias interdependentes da locomotiva americana. Vamos ver como o unilateralismo se sairá frente a um mundo multilateral.