As pesquisas mostram que Bolsonaro tem um voto cristalizado da extrema direita e parte da direita. Este percentual chegaria a 20%, outros 10% dos eleitores bolsonaristas seriam eleitores que votam politica e pragmaticamente na direita e que poderiam mudar de opinião ou anular seu voto, num confronto com a esquerda num eventual segundo turno.
Mas como Bolsonaro tem estes eleitores ideológicos num contexto de crise econômica persistente acompanhado de carestia e perda de poder aquisitivo?
É aqui que os partidos, estrategistas e marqueteiros precisam de consultores especializados em sociologia política avançada. Para enfrentar a estratégia bolsonarista há que responder a seguinte questão: qual o conteúdo da ideologia bolsonarista. Como esta estratégia vem obtendo êxito dentre os eleitores pobres e desafortunados e entre parte de uma classe média moralista?
Uma das dimensões da resposta a esta problemática passa pelo entendimento das transformações políticas, éticas, culturais e morais que o mundo ocidental está experimentando, e que o mundo político tem assistido o crescimento segmentos de extrema direita na Europa, EUA e América latina, que em cada disputa política experimentam crescimento em números de adeptos políticos.
Percebo que o mundo ocidental assiste o aumento exponencial da luta pelo reconhecimento social, etnico, político, de gênero, cultural de grupos sociais que vêm forjando suas lutas nos últimos 100 anos, expressos na luta das mulheres brancas e pretas, na luta dos negros, dos LGBTQIa+, etc. Estes grupos forjaram seus direitos na luta política, social, cultural e moral, e no início do século XXI vêem esta luta secular se transformar em conquistas jurídicas, políticas e sociais. As leis e estatutos que protegem as mulheres, LGBTs , negros e minorias outras, são expressões deste novo mundo que brota das entranhas da sociedade patriarcal, machista, LGBTfóbica.
A extrema direita de forma oportunista para se contrapor a está nova sociedade que desponta com sua visibilidade política, social, jurídica, cultural e moral oferece à velha sociedade oriunda dos séculos precedentes o retorno aos velhos tempos onde só se reconhecia a família heterosexual e onde era normal as diversas formas de preconceito contra pretos, LGBTs , e onde mulheres eram tratadas como serviçais a serviço da família tradicional.
O presidente , que já está na quarta esposa, pousa de defensor da família bíblica e com esta estratégia conquista milhões de cristãos conservadores das igrejas católicas, protestantes e grande parte de espíritas.
Este é o conteúdo dos grupos sociais que a extrema direita brasileira está polarizando. Aos bolsonaristas serve o debate do aborto, do casamento LGBT, do moralismo em todas as matizes sexuais. Os progressistas e a esquerda estão emparedados por este debate no contexto da emergência da sociedade amplamente plural e diversa representada pela geração que chegou a este mundo nos últimos 30 anos.
Enfrentar este debate estrutural necessário, neste contexto, é muito difícil e complexo no curso de uma eleição presidencial. A esquerda e os progressistas terão de politizar o debate, denunciando a extrema direita por esta estratégia oportunista.
Ao propor este debate moralista, a extrema direita se mostra representada por candidatos imorais perante sua própria pregação.
Trazer o debate para o campo da política, da economia e para a garantia de direitos sociais, políticos e culturais para todos os segmentos sociais brasileiros, em especial para os pobres e marginalizados de nossa sociedade, é uma necessidade política indispensável.