O Sol parou? O conflito entre a fé e a ciência

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O Sol parou? O conflito entre a fé e a ciência
Imagem: Reprodução

Para começar devo admitir que o título deste artigo é exageradamente pretencioso. Simplesmente não é possível abordar o conflito entre fé e ciência em tão poucas linhas. E, honestamente, se me dessem mais linhas possivelmente eu continuaria incapaz de fazê-lo. Mas espero poder sugerir algumas ideias úteis para o amigo ou amiga leitora, se é que alguém lerá as linhas a seguir.

Para aqueles pouco familiarizados com os assuntos da religião cristã e das nossas Sagradas Escrituras, certamente será preciso começar explicando a pergunta do título: “O Sol parou?” Ela remete a um evento maravilhoso descrito no Antigo Testamento no Livro de Josué. Josué liderou o povo de Israel na conquista da Terra Prometida após a morte de Moisés. Em um determinado momento da luta contra os amorreus, eles se encontraram em uma batalha intensa. Josué, confiando na promessa de Deus de estar com ele, orou ao Senhor pedindo ajuda.

Em resposta, Deus interveio de maneira extraordinária: o sol parou no meio do céu e a lua ficou imóvel, permitindo que Israel tivesse mais tempo para derrotar seus inimigos. Essa intervenção divina demonstrou o poder e a fidelidade de Deus em auxiliar Seu povo em suas lutas e ilustra a confiança inabalável de Josué na provisão divina.

Não precisa ser muito inteligente para perceber que a histórica acima apresenta um desafio aparente em relação ao conhecimento científico moderno sobre a mecânica celeste. De acordo com as leis da física, o visível ‘movimento’ do sol e da lua – me permitam essa liberdade de expressar a coisa – é, na verdade, o movimento de rotação da Terra. De certo modo, podemos dizer que o Sol e a Lua estão ‘parados, e que é a Terra a se mover ‘ao redor’ deles. Além disso, o Sol, a Lua e a própria Terra não podem simplesmente parar de girar no céu, pois isso implicaria em uma interrupção dramática do movimento de rotação da Terra.

Essa contradição aparente entre a história bíblica e o conhecimento científico tem levado muitos a ridicularizarem o texto sagrado, e a reafirmarem certa crença de que a fé seria inimiga da ciência. O Livro de Josué narra um milagre. Crer nisso exige fé, portanto, não cabe aqui tentar convencer o leitor cético. O que é interessante é analisar a ideia do Sol e a Lua terem ‘parado’.

Indo direto ao ponto: não há problema algum com a narrativa do Livro de Josué. Basta o leitor ser inteligente o bastante para perceber que o autor está descrevendo um fenômeno que todo ser humano consegue perceber no seu dia a dia. É verdade que um homenzinho na Lua irá ver que é a Terra que se movimenta ‘ao redor’ do Sol, mas não é isso que você, amigo ou amiga que me lê, observa de sua perspectiva terrestre. Todos os dias observamos o mesmo fenômeno: o sol ‘se levanta’ de um lado e ‘se põe’ do outro. Ao longo do dia, podemos acompanhar o caminho que o grande astro celeste faz bem diante dos nossos olhos!

O único problema aqui é que o crítico, que nunca viu realmente o movimento da Terra ‘ao redor’ do Sol, quer questionar um livro escrito há milhares de anos, ainda que, o próprio crítico veja, todos os dias, a mesma cena descrita pelo autor do Livro de Josué. A verdade é que para a nossa própria experiência, a Terra é e sempre será o centro do cosmos, e continuaremos a ver o sol ‘dando voltas’ ao redor de nós. Essa descrição é cientificamente exata? Não! Mas é real e facilmente observável. Aqui estamos no campo da fenomenologia, para o leitor mais exigente.

Mais que real, essa perspectiva do fenômeno é facinante e dá brilho e poesia aos nossos mitos, canções, religiões e poemas de amor! Mas e a visão mais exata do nosso observador lá na Lua? É válida e necessária, porém, experiencialmente distante e privada de poesia. E, de modo algum, é mais real que a do homem simples olhando pela varanda de sua casa.

Neste ponto, o crítico cético e o crente cabeça dura são bem parecidos: eles insistem na tolice de colocar fé e ciência em um ringue, quando apenas são olhares diferentes e, na maioria da vezes, complementares sobre a realidade que nos cerca.