Marcelo é, sem dúvida, um vereador atuante. Ninguém discute que o município precisa de representantes assim. Mas é justamente por conhecer sua trajetória e sua influência que o gesto dele chama atenção. Ou melhor: escancara o roteiro que políticos oportunistas seguem quando o vento começa a soprar em outra direção.
Essa cartinha educada, cheia de “abraços fraternos” e “respeito às opiniões”, não é apenas um comunicado — é um movimento calculado. Um reposicionamento político, ensaiado milimetricamente para parecer nobre, mas que, na prática, soa como fuga.
E o timing entrega tudo: depois do que aconteceu em Placas, onde a Justiça Eleitoral já julgou procedente a ação por abuso de poder econômico, e com a ação contra o prefeito Zé Filho prestes a ter parecer do Tribunal Regional Eleitoral, Marcelo resolveu “romper”. Agora? Só agora?
É muita coincidência — ou melhor, conveniência.
Todo mundo sabe que o Zé Filho é cria política dele. E todo mundo lembra que ele ajudou a construir e sustentar o grupo que hoje é chamado de “desgoverno”. Agora, com o barco entrando água, Marcelo pula fora. Não por indignação, mas por sobrevivência. Não por princípios, mas por preservação.
Essa movimentação é antiga na política: quando o cenário aperta, surgem os que querem parecer distantes do que ajudaram a erguer. Mas o povo, que viveu na pele os efeitos das decisões desse grupo, não tem memória curta. Sabe exatamente quem são os protagonistas dessa novela. E também sabe quem tentou entrar no último capítulo para fingir que era apenas um coadjuvante.