Antes de tudo, é preciso lembrar que por trás de cada número há uma vida interrompida, uma família em luto e uma juventude em sofrimento. O suicídio já é a quarta causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, atrás apenas de acidentes de trânsito, tuberculose e violência interpessoal, conforme alerta a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, são cerca de 14 mil mortes por ano, ou 38 suicídios por dia.
Além disso, a realidade se mostra ainda mais preocupante quando olhamos para a adolescência. Entre 2016 e 2021, houve um aumento de 49,3% nas mortes por suicídio entre adolescentes de 15 a 19 anos e de 45% entre adolescentes de 10 a 14 anos, conforme levantamento da Secretaria de Vigilância em Saúde. Esses números não são apenas estatísticas: são vozes que se calaram cedo demais e que revelam uma crise silenciosa entre os jovens.
Por outro lado, não podemos simplificar um fenômeno tão complexo. A própria OMS reconhece que o suicídio tem múltiplas causas — psicológicas, sociais, culturais e econômicas. Entre elas, estão o impacto das redes sociais, a violência urbana, a pressão por desempenho e a falta de perspectivas de futuro. Tudo isso aumenta a vulnerabilidade de quem, muitas vezes, não encontra espaço para pedir ajuda.
Nesse sentido, a saúde mental precisa ser vista como direito fundamental, e não como privilégio. A Constituição Federal, em seus artigos 6º e 196, garante que a saúde é um direito de todos e dever do Estado. Já a Lei da Reforma Psiquiátrica (Lei 10.216/2001) reforça que o tratamento deve respeitar a dignidade e os direitos humanos, assegurando acesso à rede de atenção psicossocial. Negligenciar esse cuidado é, portanto, negar um direito básico.
Ao mesmo tempo, organismos internacionais, como a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), têm defendido que a prevenção ao suicídio seja tratada como prioridade global. Para isso, é fundamental ampliar a rede de acolhimento, capacitar profissionais da saúde e da educação, além de envolver escolas, universidades e comunidades em ações de prevenção e escuta.
Por fim, o Setembro Amarelo não pode ser apenas um mês no calendário, mas sim um compromisso diário de todos nós. Como destaca o Conselho Federal de Medicina (CFM), valorizar a vida significa investir em políticas públicas, romper o silêncio e combater o estigma que ainda cerca o sofrimento mental. Cada gesto de escuta, cada palavra de apoio e cada política que fortalece a rede de proteção pode salvar vidas. Afinal, a vida é o bem mais precioso protegido pela nossa Constituição — e defendê-la deve ser sempre a nossa maior prioridade.