Xeque-mate | Na política do Pará, as mudanças raramente vêm acompanhadas de alarde, mas seus efeitos são sentidos como abalos sísmicos. Recentemente, um desses movimentos discretos, porém impactantes, foi a troca na liderança do PSB no estado: Cássio Andrade, deputado estadual e vice-prefeito de Belém, perdeu o posto no partido que sua família ajudou a fortalecer. Quem assume agora é o prefeito de Ananindeua, Dr. Daniel, um conhecido adversário político do governador Helder Barbalho (MDB).
Essa mudança vai além de uma simples reestruturação interna do partido. É uma manobra estratégica com implicações significativas para o cenário de 2026.
A Queda Silenciosa de Cássio Andrade
Cássio, que por muitos anos representou a face e a inteligência do PSB no Pará, viu-se marginalizado em um partido que agora faz parte de um projeto político oposto ao seu. A perda do controle foi um golpe tanto simbólico quanto estratégico. Sem poder sobre a estrutura que antes liderava, Cássio fez uma escolha pragmática: filiou-se ao MDB, partido de Helder e atual centro da política paraense.
No entanto, essa mudança tem um custo: de líder partidário com influência, ele se torna apenas mais um aliado na máquina do MDB, cercado por nomes de peso como Chicão, Priante, Jader Filho, entre outros. Perde autonomia e destaque, mas garante, por enquanto, sua permanência.
Dr. Daniel: da Margem ao Centro do Jogo
Enquanto isso, Dr. Daniel ganha destaque no cenário político. Prefeito da segunda maior cidade do estado, Ananindeua, ele agora lidera uma estrutura partidária importante e demonstra claramente sua intenção: concorrer ao governo do estado em 2026, contra o sucessor ou sucessora de Hélder.
Não se trata apenas de mais um nome na disputa. Daniel representa a formação de um novo polo político, capaz de atrair parte da oposição, descontentes da base e forças regionais que resistem ao domínio do MDB. Assumir o PSB é mais do que uma vitória política: é um sinal verde para construir uma alternativa ao poder do grupo Barbalho.
MDB: Refúgio dos Aliados e o Risco do Excesso
O MDB continua sendo o maior e mais bem estruturado partido do Pará, mas a cada nova filiação de destaque, aumenta a disputa interna por espaço, influência e votos. Cássio entra em um terreno onde há muitos líderes e poucos seguidores. O partido acolhe, mas também pode diluir: filiados com trajetórias próprias podem se perder em uma estrutura onde todas as decisões passam pelo círculo próximo de Helder.
2026: O Confronto é Quase Certo
Com a liderança renovada do PSB, a oposição a Helder se fortalece e ganha mais recursos. O Dr. Daniel terá partido, apoio, influência regional e um argumento. Cássio, no MDB, talvez busque a reeleição como deputado, mas dificilmente recuperará a influência de antes.
A eleição de 2026 se configura como um embate entre duas ideias:
A do governador Helder Barbalho, que buscará eleger seu sucessor ou almejar um papel de destaque no cenário nacional;
E a de uma oposição que se organiza com o Dr. Daniel e o PSB, apostando no desgaste inevitável de um grupo que controla o estado há quase dez anos.
Embora o governo estadual atual esteja há uma década no comando, a influência da mesma família na política paraense é ainda mais longa. Desde a época de Jader Barbalho, passando por nomes como Elcione Barbalho (deputada federal), Priante (também deputado federal) e, agora, com Igor Normando — primo do governador e atual prefeito de Belém —, nota-se a permanência de um clã no poder. Essa estrutura se assemelha a uma oligarquia ou dinastia política, onde o poder fica concentrado entre familiares e aliados, restringindo a renovação política e a alternância democrática.
No Pará, a situação é indefinida. Mas o cenário já se transformou — e algumas figuras, como Cássio, precisaram se adaptar fora de sua área de atuação habitual.