Será que o feminismo é só lutar por direitos iguais, por salários iguais, termos voz igual aos homens? É muito mais que isso, é autoestima, é auto preservação, é luta pela sobrevivência.
O feminismo surgiu da desigualdade. Sim, a desigualdade entre homens e mulheres, pois até não muito tempo atrás, por volta da década de 30, nós mulheres éramos consideradas propriedades dos homens, primeiro pai, depois maridos, até pra viajar era preciso uma autorização do senhor todo poderoso, dono legítimo daquele corpo e mente, do qual ele poderia usufruir à vontade. Essa desigualdade, que nos considera inferiores e frágeis é que nos levou à luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres, de podermos ser donas dos nossos próprios narizes.
Mas, segundo historiadores, surgiu já na Revolução Francesa, quando fizeram a declaração dos direitos dos homens e dos cidadãos, dois anos mais tarde uma mulher, dramaturga francesa considerada a primeira feminista, Olímpia de Gouges, ficou absolutamente indignada com aquela coisa machista e criou a Declaração Pelos Direitos das Mulheres e das Cidadãs. Óbvio que isso não passou pelos machistas de plantão e a pobre foi executada, dois anos mais tarde.
Bem, mas deixemos a história, pois praticamente todos já sabem sobre a revolução Industrial, queima de sutiãs e tals. O assunto aqui é bem mais complexo que isso. E triste.
Mesmo depois de tantas lutas, chegamos ao século XXI como se estivéssemos andando em círculos sem chegar a lugar nenhum em relação a muitas coisas em relação a nós, mulheres, a nossa sobrevivência, digamos assim.
90% das mulheres sofrem abuso, seja físico ou psicológico, muitas dessas nem sabem que sofrem ou não conseguem ver. Mas, mesmo quando se dão conta, que conseguem sair, a saga continua, pois carregamos aquela bagagem para o resto da vida.
E eis que tenho me deparado com uma coisa que repercute entre várias de nós que sofremos abuso e violência, ouço de muitas, ah, eu não posso estar em um novo relacionamento pois preciso me curar primeiro. E eu já ouvi várias vezes, amiga, vc precisa se curar pra pensar em relacionamentos.
Pois é, o que tenho pra dizer sobre isso é o seguinte: NÃO, eu, nós, não temos que nos curar, pois as coisas que sofremos, NUNCA mais aceitaremos de ninguém.
E sim, sempre teremos medo de passar por aquilo de novo, sempre estaremos com o pé atrás em relação a muitas coisas, sempre vamos nos defender, de uma maneira ou de outra.
E NÃO, não temos que nos curar, o outro tem que nos aceitar assim, tem que nos entender assim, tem que aprender como tratar uma mulher, e isso sem que precisemos ensinar, pois não estamos aqui pra dar aulas aos homens de como devem agir com as mulheres, de como devem nos respeitar, de como devem nos ouvir sem nos ameaçar jogar pra fora do carro se falarmos algo que não gostem ou até mesmo nos deixar para sempre e na pior das hipóteses, partir pra agressão física, ou matar. Se um homem faz isso ele não merece de nós consideração, respeito, muito menos amor.
Mas o fato é que não temos que nos curar, não vamos nos curar, a menos que tenhamos uma amnésia total. Temos é que entender que passamos por isso e isso nunca mais sairá das nossas mentes ou até mesmo dos nossos corpos, cabe aos outros nos aceitarem e entenderem assim.
Porque já basta tudo que sofremos, ainda temos que “nos curar” para podermos ser agradáveis ao outro, caso contrário ele não irá nos querer? Isso é igual uma laranja que está machucada, será descartada pq não vai prestar mesmo.
Portanto parem com isso, não temos que nos curar, temos que ser aceitas, respeitadas e amadas, caso contrário só resta uma coisa a fazer, um belo chute na bunda do infeliz que te exige que vc seja ótima e sorria sempre.
Isso é mais uma forma de abuso que a sociedade machista nos impõe.
Se cure, nos curemos, a menos que a gente queira, por nós, não pra sermos melhores para outros.