Está aberta a temporada de caça ao pobre. Você que anda de ônibus, cuidado! Haverá candidato prometendo ar-condicionado no coletivo, respeito aos horários, ônibus aos finais de semana e passe livre. Você que não tem um dente na boca, alerta! Haverá candidato distribuindo dentaduras novinhas em folha, policlínicas no bairro, operação de apendicite sem fila. Você que mora na periferia, atenção máxima! É aí que os políticos preferem atuar. Vão prometer mundos e fundos: um muro, rede de esgoto, luz elétrica, água tratada, escola nova, asfaltamento na rua e, de quebra, a regularização do barraco no cartório. Se você é pobre, sinta-se importante! Não demora muito e o seu celular pré-pago irá tocar – “olá, eu sou candidato e quero falar sobre a nossa cidade”, uma voz que você julgava extinta volta para perturbar. Não é só isso. Você vai ver político no Face book, pelo WhatsApp, rádio e televisão, vai escutá-lo até no carro de som como se fosse vender pamonha.
Nesses próximos meses, a pobreza será uma dádiva. Candidatos entrarão pela porta da sua casa e tomarão café na caneca de lata amassada, sentarão no batente da sua porta e afagarão seu cachorro sarnento, carregarão no colo seus oito filhos desnutridos e chorarão pela morte do seu pai que não foi atendido na porta do pronto-socorro.
Ah, querido pobre, querida miserável… agradeça aos céus pela falta de dinheiro. Ninguém no mundo será mais paparicado por uma fotografia do que vocês.
MANOEL AUGUSTO MARQUES LIMA – brasileiro, maranhense, nascido na cidade de Cândido Mendes (MA), em 29 de outubro de 1949, escritor, poeta,maçon, espírita, cronista e palestrante.