Na acepção de Nicolo Maquiavelli Virtú significa a capacidade conquistar e manter o poder político ao longo do tempo, poderíamos atualizar esta categoria da ciência política moderna, complementando: saber utilizar um conjunto de ferramentas da atualidade que compõe o enorme arsenal da estratégia de campo e dos meios eletrônicos e virtuais para convencer a sociedade a escolher um determinado candidato.
Acredito que pelo que vi durante a campanha, o comando estratégico da campanha Igor, utilizou os seguintes passos metodológicos: 1- Realizou pesquisas quantitativas e qualitativas sobre a percepção da cidade sobre a situação da cidade e do governo de Belém. 2- Percebeu que a cidade buscava um candidato que aliasse capacidade de captar recursos e apoio político e administrativo nas esferas estadual e federal. 3- Que fosse um candidato com um razoável grau de experiência na vida pública. 4- Que fosse um candidato que estivesse fora dos polos extremos da disputa política.
Belém vivia uma crise de limpeza pública há pelo menos seis meses, o que colocava a população do centro e da periferia em “pé de guerra” com o governo de Belém. Os serviços de mobilidade urbana da capital estavam há muito colapsados. A crise de falta de medicamentos nos Prontos socorros e UPAS eram percebidos nos espetaculosos programas televisivos do meio-dia. Servidores terceirizados da saúde municipal viviam denunciando atrasos de seus salários.
Por outro lado, todas as pesquisas, oriundas da maioria dos institutos de pesquisas, apontavam a liderança do deputado federal, delegado Eder Mauro, que havia projetado uma imagem de ator político beligerante em relação ao governador do estado. De outro lado, o governador do estado estava vendo e analisando este contexto político descrito. A rejeição do prefeito de Belém ultrapassava os 60%, em todas as pesquisas. Por outro lado, as pesquisas retratavam que a rejeição do deputado federal, delegado Eder Mauro, era a segunda mais alta, só perdendo em rejeição para o prefeito de Belém.
A estratégia das oposições concentrou-se durante a pré-campanha em atacar o mal avaliado prefeito da capital, consolidando a percepção negativa do governo de Belém naquela disputa eleitoral. Aqui vale um registro teórico: empiricamente ninguém pode acusar a governo de Belém entre 2019 e 2022 de omisso.
O governo Edmilson fez uma excelente gestão emergencial durante a pandemia, tanto a gestão médica como na gestão social, implantou um agressivo programa de saneamento da cidade de Belém, teve um importante papel em convencer Lula a lutar para que Belém fosse a sede da COP30. Fez bons programas na área de emprego, renda e proteção social. Mas, os logradouros públicos (ruas, praças) estavam com limpeza comprometida e vieram a embaçar a visão da população sobre o desempenho do governo Edmilson. Claro, 2/3 das redes sociais e 100% dos veículos de comunicação de massas estavam a vender notícias com base no foco em temas negativos para a cidade. “Não basta um corpo estar saudável por dentro, é preciso que este corpo esteja limpo e bem-vestido por fora”, esta é a mensagem a ser aprendida pelos atores executivos.
Pois bem, o governador e seu staff devem ter analisado e concluído de que seria de alto risco manter o apoio ao prefeito Edmilson nas eleições de 2024, e ter um prefeito bolsonarista no comando da cidade de Belém durante a realização da COP30. Então o lançamento de um candidato que fosse percebido como alguém moderado politicamente e que viesse a contar com o apoio do governo estadual e federal se tornou um fato consumado.
Com a emergência da percepção popular majoritariamente negativa em relação ao governo de Belém, expressa há pelo menos 18 meses antes das eleições, o governo do estado tomou todas as providências para tornar viável a candidatura Igor. De imediato o governador o nomeou como secretário de estado para conduzir o melhor e maior programa de inclusão e qualificação social do atual governo que são as Usinas da Paz.
O segundo passo do governo do estado foi projetar o candidato Igor Normando, através do programa do MDB estadual como homem de confiança do governador, nos horários nobres das televisões. O terceiro passo foi colocar os meios de comunicações a serviço de municipalização do nome de Igor Normando. O terceiro grande passo foi aglutinar um enorme leque de apoio partidário à candidatura Igor à prefeitura em 2024.
Muito inteligentemente, por meio de influências subterrâneas, as pesquisas iniciais mostravam a liderança de Eder Mauro, seguido por Edmilson e em terceiro lugar, o candidato Igor Normando.
Há muito que minhas pesquisas, expressas no Instituto IVEIGA já mostravam o empate técnico entre Eder Mauro e Igor Normando e Edmilson em um longínquo terceiro lugar. Esta estratégia midiática do governo estadual deu certo, e há dois meses das eleições, em minhas pesquisas, o candidato Igor Normando já liderava a pesquisa eleitoral para Belém com folga.
Todas as demais pesquisas apontavam a liderança de Eder Mauro e Igor normando em segundo há 30 dias das eleições.
Ao final, passaram ao segundo turno Igor Normando em primeiro lugar e Eder Mauro em segundo lugar, que veio a culminar com a vitória eleitoral do candidato emedebista. Ninguém pode negar: os arquitetos estratégicos da candidatura e campanha de Igor acertaram “na mosca”. Em síntese, percebi VIRTÚ na inteligente estratégia da campanha Igor Normando.