Entre as obras expostas na mostra coletiva “Olho da Onda”, uma fotografia chamou atenção não apenas pela beleza da imagem, mas pela história e as emoções que ela carrega. O registro feito pelo fotógrafo Jadielson Barros, captura duas crianças navegando em uma pequena embarcação pela Baía do Marajó é mais do que uma simples imagem; é uma janela para a relação intrínseca entre cultura, natureza e as histórias do Pará.
Em entrevista, Jadielson, compartilhou os bastidores do momento em que capturou a cena. “Em janeiro de 2024, durante uma viagem à ilha de Cotijuba, tive uma experiência que representa muito do que acredito na fotografia. Estava documentando o dia a dia da ilha quando conheci duas crianças acompanhadas pela avó. Pedi autorização para fotografá-las, e ela permitiu com um sorriso”, relembrou.
A Conexão Através da Lente
Para Jadielson, a fotografia vai além do ato de registrar. “Enquanto eu capturava as imagens, percebi o encantamento das crianças com o ato de serem fotografadas. Foi um momento de troca, onde a curiosidade delas se encontrou com o meu desejo de contar histórias”, contou. A troca entre o fotógrafo e os irmãos Ana Gabrielly e Brayan Rafael Batista foi o que deu à imagem um significado especial, transformando-a em uma narrativa visual sobre a vida tradicional amazônica.
A obra acabou sendo selecionada para compor a exposição “Olho da Onda”, uma conquista celebrada por Jadielson. “Essa exposição foi uma oportunidade incrível para compartilhar um pouco dessa história e mostrar como a fotografia pode conectar pessoas e culturas. Pra mim, essas imagens são mais do que registros; são uma forma de trazer uma nova perspectiva sobre o Pará e a riqueza da nossa cultura amazônica”, disse o fotógrafo.
O Olhar Sensível da Amazônia
A fotografia, escolhida pela historiadora Bárbara Selvate, compõe o trabalho final do curso Visualidades Amazônicas, que deu origem à exposição. Bárbara relembra como se deparou com a imagem: “Eu tava fazendo o curso e pedi pra ele [Jadielson] algumas fotografias com a temática amazônica. Quando ele me mandou e eu vi a fotografia dos meninos, pensei: ‘Caramba, isso aqui tem que estar lá’. Trouxe uma memória afetiva muito forte pra mim e sem dúvidas é uma das mais marcantes”. Selvate confessou ainda que a imagem é uma das suas preferidas da mostra.
Amazônia como Cenário e Protagonista
O cenário da Baía do Marajó, sereno e vasto, reflete a harmonia entre a paisagem amazônica e a cultura local. As crianças, que navegavam sob os olhares atentos da avó carregam consigo a vivência ribeirinha.
Andrea Batista, avó das crianças que aparecem na fotografia, descreve a emoção ao ver a obra em um dos espaços culturais mais importantes da Amazônia. “Eu senti uma emoção muito grande, eu nem imaginava que fosse ter uma repercussão tão grande. Nunca imaginei que um dia fosse ver meus netos numa exposição aqui na Casa das Onze Janelas”, disse Andrea, emocionada.
Andrea relembra o dia em que a fotografia foi registrada. “Ele [Jadielson] me falou que iria publicar a foto no Instagram e que não sabia o tamanho da repercussão que isso poderia ter. Que, assim como poderia repercutir, também poderia não repercutir”, contou a avó das crianças.
A jovem Ana Gabrielly, uma das crianças fotografadas, viu o momento como a realização de um sonho: “O meu sonho é ser modelo, ver a minha foto em algum lugar. Eu amei a foto, fiquei muito feliz de ver minha foto em uma exposição assim como essa”, declarou com um sorriso tímido, mas cheio de orgulho.
Hoje, essa “imagem simples” e sensível está entre as mais comentadas da exposição, destacando-se como um reflexo da essência amazônica e da capacidade da arte de emocionar, conectar e transformar.
Se ainda não visitou, “Olho da Onda” segue aberta ao público na Casa das Onze Janelas até o dia 31 de dezembro. Não perca a oportunidade de conhecer histórias como essa, que revelam a Amazônia em toda sua potência e delicadeza.