Morte do estudante Edson Luís no Calabouço: estopim para manifestações na ditadura

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Morte do estudante Edson Luís no Calabouço: estopim para manifestações na ditadura
Foto: 28/03/1968 / AGÊNCIA GLOBO

O estudante Edson Luís (24 de fevereiro de 1950), natural de Belém, capital do Estado do Pará, era da Frente Unida dos Estudantes do Calabouço (FUEC), cursava o 2º Grau no Instituto Cooperativo de Ensino. Frequentava o Restaurante Calabouço, subsidiado pelo governo, no centro do Rio de Janeiro, que oferecia alimentação para estudantes a baixo custo, nas décadas de 50 e 60 era ponto de grande importância para os estudantes.

O Calabouço também era palco de manifestação de alunos por melhorias na educação, mas desde 1964 os militares passaram a reprimir toda manifestação por uma educação de qualidade: no dia seguinte após o golpe militar a sede da UNE (União Nacional dos Estudantes) foi incendiada na praia do Flamengo como forma de intimidação. A UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) teve muitos de seus dirigentes e militantes perseguidos e exilados.

Morte do estudante Edson Luís | Acervo
Estudante: Reprodução da carteira de Edson Luís, que cursava o Madureza, atual Supletivo, no próprio prédio do restaurante, onde fazia as refeições /28/03/1968 / AGÊNCIA O GLOBO

A morte de Edson Luís

Era 28 de março de 1968, os estudantes organizavam protesto relâmpago contra elevação do preço das refeições, quando a Polícia Militar invadiu o restaurante, o comandante da tropa da PM, aspirante Aloísio Raposo, matou o secundarista Edson Luís de Lima Souto, de 18 anos, com um tiro à queima roupa no peito.

Os estudantes temendo que os policiais sumisse com o corpo de Edson Luís, não permitiram que ele fosse levado para o Instituto Médico Legal (IML), mas o carregaram em passeata diretamente para a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, onde foi velado. Mais de 50 mil pessoas se aglomeram no entorno da Assembleia.

Memória: como Edson Luis se tornou um ícone do movimento estudantil - Jornal Tornado
Estudantes velam o corpo do secundarista Edson Luis, um jovem mártir na luta contra a ditadura militar / Imagem: Arquivo Nacional

A morte de Edson Luís foi o estopim para uma série de manifestações em todo o país, a maior delas a Passeata dos Cem Mil contra a ditadura militar em 26 de junho de 1968, no Rio de Janeiro, com a participação de artistas, intelectuais e diversos setores da sociedade.

Caixão de Edson Luís sendo carregado por manifestantes / Crédito: Domínio Público

No dia do sepultamento a cidade do Rio de Janeiro parou. Os cinemas da Cinelândia anunciaram três filmes: A noite dos GeneraisÀ queima roupa e Coração de Luto.

Cartazes exibiam as mensagens Bala mata fome?”Os velhos no poder, os jovens no caixão e Mataram um estudante. E se fosse seu filho?”.

O estudante paraense Edson Luís, em 28 de março de 1968, aos 18 anos, foi sepultado ao som do Hino Nacional Brasileiro, cantado pela multidão.

Segundo estimativas depois de Edson Luís, cerca de mais de 200 jovens foram assassinados durante a ditadura militar. 

Álbum Geras 1976

O artista brasileiro Milton Nascimento com Ronaldo Bastos compôs a canção “Menino”, alusiva a Edson Luís, no álbum Geraes (1976).

Música: Menino (Milton Nascimento, Ronaldo Bastos)

João Donato : Órgão, Nelson Ângelo : Guitarra, Novelli : Contrabaixo, Robertinho Silva : Bateria, Toninho Horta : Guitarra e Milton Nascimento: Arranjador.

MÚSICA

Quem cala sobre teu corpo

Consente na tua morte

Talhada a ferro e fogo

Nas profundezas do corte

Que a bala riscou no peito

Quem cala morre contigo

Mais morto que estás agora

Relógio no chão da praça

Batendo, avisando a hora

Que a raiva traçou

No incêndio repetindo

O brilho de teu cabelo

Quem grita vive contigo

 

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