Durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985), houve vários casos de violência, repressão e mortes no campo, especialmente contra camponeses, indígenas e líderes de movimentos sociais que lutavam por reforma agrária e direitos territoriais. Esses conflitos foram marcados por ações de agentes do Estado, como o Exército e a Polícia Militar, além de milícias privadas a serviço de grandes proprietários de terras.
Principais casos de violência no campo durante a ditadura:
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Massacre de Trombas e Formoso (1964-1966)
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Trombas e Formoso, em Goiás, foi uma região de forte organização camponesa antes do golpe. Após 1964, o governo militar reprimiu violentamente o movimento, prendendo e torturando líderes como José Porfírio de Souza. Vários camponeses foram mortos ou desapareceram.
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Conflitos na Guerrilha do Araguaia (1972-1974)
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O Exército realizou operações brutais contra a guerrilha do PCdoB no sul do Pará, resultando na morte de dezenas de guerrilheiros e camponeses suspeitos de colaboração. Muitos civis foram torturados, executados e enterrados em valas comuns.
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Violência contra indígenas
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Comunidades indígenas sofreram massacres e expulsões de suas terras para dar lugar a grandes projetos de infraestrutura e agronegócio. Um caso emblemático foi o dos Waimiri-Atroari, que tiveram centenas de mortos durante a construção da BR-174 (Manaus-Boa Vista).
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Repressão às Ligas Camponesas
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Movimentos como as Ligas Camponesas, que lutavam por reforma agrária, foram duramente reprimidos. Líderes como João Pedro Teixeira (assassinado em 1962, antes do golpe, mas cuja organização foi perseguida depois) e Elizabeth Teixeira (viúva de João Pedro, que viveu anos na clandestinidade) sofreram perseguição.
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Trabalhadores rurais e sindicalistas assassinados
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Diversos líderes sindicais e trabalhadores rurais foram mortos por pistoleiros ou forças oficiais. Um exemplo foi o Massacre de Porecatu (PR) na década de 1950, cujos sobreviventes ainda enfrentaram perseguição durante a ditadura.
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Responsabilização e Memória
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A Comissão Nacional da Verdade (CNV), em seu relatório final (2014), reconheceu a responsabilidade do Estado brasileiro por graves violações de direitos humanos no campo, incluindo execuções, torturas e desaparecimentos.
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Muitos casos permanecem sem justiça, pois a Lei da Anistia (1979) dificultou a punição de agentes da repressão.
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Organizações como a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) mantêm viva a memória dessas lutas.
A violência no campo durante a ditadura faz parte de um contexto mais amplo de concentração de terras e repressão aos movimentos sociais, cujas consequências ainda são sentidas hoje.