O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles defende aprovação das mudanças no sistema previdenciário. Diz que capitalização pode ajudar na formação de poupança
A mudança no sistema previdenciário tem impacto fiscal de médio e longo prazos, mas será fundamental para a retomada “imediata” da confiança de investimentos no país, na avaliação do ex-ministro da Fazenda e ex-candidato à Presidência pelo MDB, Henrique Meirelles. “A confiança é fundamental. O grande impulsionador do crescimento após a reforma da Previdência vai ser o aumento da confiança, por razões sólidas, pela questão do controle do deficit público no futuro”, afirmou ele, em entrevista ao Correio. Ele reforça que o mais importante é o reequilíbrio fiscal do país.
O secretário de Fazenda do Estado de São Paulo destacou que o fraco crescimento da economia é resultado da queda na confiança em geral, porque as expectativas em relação ao resultado das eleições não se concretizaram. “Acredito que houve uma reavaliação de expectativa. Em 2018, houve uma incerteza criada por um processo de polarização muito grande e o que ocorreria em função disso. Posteriormente, em 2019, exatamente porque se passou a aguardar muito a votação da reforma, o processo mais prolongado não foi previsto pelos analistas”, explicou.
Meirelles reconheceu que o país não conseguirá voltar crescer mais fortemente se continuar a investir no patamar registrado em 2018, de 15,8% do Produto Interno Bruto (PIB). “O nível de investimento da economia brasileira está baixo. O grande desafio do Brasil hoje é aumentar o investimento”, destacou. Nesse sentido, a mudança para o modelo de capitalização proposto pela nova reforma da Previdência, poderá ajudar, porque será uma forma de aumentar a poupança a longo prazo. Em 2018, a taxa de poupança foi de 14,5% do PIB, uma das mais baixas da América Latina, cuja média é de 17,6% do PIB, conforme dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O ex-ministro evitou fazer comparações entre a proposta enviada por ele, durante o governo Michel Temer e a atual. O texto que tramitava no Congresso foi deixado de lado pelo atual governo, que apresentou a nova reforma com economia prevista de R$ 1 trilhão em 10 anos. Meirelles, inclusive, defendeu que ela seja preservada “o máximo possível”.
De acordo com o ex-ministro, se a mudança no sistema de aposentadorias for aprovada, o país conseguirá crescer mais e de forma sustentável. Isso, se as reformas de aumento da produtividade e tributária forem encaminhadas na sequência, assim como as privatizações. “A única solução para o investimento pesado em infraestrutura é por meio de privatização. Concessões e privatizações são o caminho que o Brasil tem que seguir. Primeiro, a reforma tributária, depois, um processo intenso em investimento em infraestrutura, para baixar o custo de transporte no Brasil, e outra série de medidas de aumento de produtividade, como aumento de desburocratização, simplificação de abertura e empresa, etc. Uma série de projetos que deixamos prontos para serem apresentados no Congresso”, elencou.
Privatizações
O ex-ministro está focado, atualmente, no programa de desestatização em São Paulo e o conselho liderado por ele está na fase de elencar as prioridades.”A meta é fazer o maior número possível de privatizações. Temos uma lista de 200 de desestatizações e concessões possíveis”, disse. Segundo ele, além de concessão de rodovias e de empresas, o governo pretende realizar parcerias com a União, como no caso da a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), que será transferida da União para o governo de São Paulo e mudará de endereço até o fim de 2020.
Ele afirmou que esse foi um dos temas da conversa entre o presidente Jair Bolsonaro, o governador paulista João Doria (PSDB) e ele ontem. “Conversamos sobre a possibilidade de que a gestão seja transferida para o estado e se estabeleça lá (no local da atual Ceagesp) um centro nacional de tecnologia, levando o Vale do Silício para São Paulo. Existe uma demanda muito grande. Isso foi discutido e o presidente sinalizou positivamente sobre essa revolução”, contou.