Dizem que o ano de 1968 ainda não terminou. Cinquenta anos depois, muitas questões colocadas naquela época não foram resolvidas. É por isso que os estudantes brasileiros continuam se lembrando e homenageando o garoto de 17 anos morto naquele 28 de março. Aproveite a Jornada de Lutas Edson Luís para conhecer melhor esta história.
1. Naquele ano, manifestações e organizações estudantis eram proibidas
A primeira coisa que os militares fizeram, no dia seguinte ao Golpe Militar de 1964, foi fechar as entidades estudantis e demolir a sede da UBES e da UNE.
Desde então, foram reprimidos todos os protestos por uma educação pública de qualidade ou que questionassem o regime.
Mesmo assim, estudantes insistiam na liberdade de expressão. Marcavam protestos relâmpagos, tentavam driblar policiais e agentes infiltrados nos movimentos, apanhavam e resistiam.
Circulava um “manual do protesto” distribuído pelo Comando Intelectual, com recomendações como “ir em jejum” e usar “leite de magnésia em torno dos olhos, para anular o gás”.
2. Mataram um estudante comum
Sabe quando tentam dizer que “na ditadura só morria quem fazia coisa errada”? Pois é. Edson Luís de Souto Lima, 17 anos, saiu de Belém (PA) e só queria cursar a escola técnica no Rio de Janeiro. Era a maior perspectiva de estudos para os pobres, que nem sonhavam com universidade.
Filho de lavadeira, ele fazia bicos de faxina para se manter e comia no restaurante universitário Calabouço, para jovens de renda baixa.
3. Morreu por querer assistência estudantil
Uma mentira que insistem em repetir sobre a ditadura é que “as escolas eram melhores”. Veja só: em 1969, a Emenda Constitucional número 1 desobrigou o Estado de reverter 12% do PIB para Educação. O percentual caiu de 7,6%, em 1970, para 4,31%, em 1975. Ficou em 5% em 1978. Quem podia começou a ir para escola particular. E ai de quem reclamasse.
4. Edson não foi o único morto naquele dia
Benedito Dutra também levou um tiro da polícia militar. Também foi em seguida levado até a Assembleia Legislativa pelos colegas, que temiam que os policiais sumissem com os corpos. Lá, um deputado médico viu que Benedito tinha vida. Ele chegou a ser internado em um hospital, por isso não foi velado com Edson, mas acabou falecendo no dia seguinte.
5. O Rio de Janeiro parou por um estudante
No velório de Edson Luís, pela primeira vez em quatro anos, desde o Golpe de 1964, a população em peso foi às ruas indignada.
“Mataram um estudante. Podia ser seu filho”. A manchete chocou até a classe média, que compareceu na Cinelândia naquele 29 de março.
6. Na missa de sétimo dia, policiais cercaram a igreja
Incomodado com o levante popular, o Exército baixou medida: “As autoridades não permitirão atos públicos após as missas”. No sétimo dia de Edson Luís, a Igreja da Candelária foi cercada pela cavalaria e os presentes só puderam sair cercados pelos padres.
7. Depois de Edson Luís, Cem Mil foram às ruas
O acirramento entre estudantes e Exército só aumentou, com mais protestos relâmpagos e mais violência explícita. A Passeata dos Cem Mil, na Cinelândia, Rio de Janeiro, foi a demonstração de que a sociedade não concordava com isso.
8. O episódio Edson Luís levou à fase mais tensa da ditadura
Em vez de permitir a liberdade de expressão e a democracia, sob pressão o regime autoritário se tornou ainda mais cruel. O ano de 1968 terminou com o Ato Institucional número 5 (AI-5): não existiam mais deputados nem Congresso Nacional. E as pessoas estavam proibidas de se reunir, em clubes, sindicatos, até nos próprios lares.
O regime iria durar nesses termos por mais 17 anos. A UBES não conseguiu atuar nem na ilegalidade por 10 anos, de 1971 a 1981.
9. O mesmo ano foi decisivo para estudantes de outros lugares do mundo
Nos Estados Unidos, a juventude criticava a Guerra do Vietnã, o racismo e a exploração econômica da sociedade americana, por meio de manifestações, barricadas, ocupações.
Na França, maio de 1968 entrou para a história pelos protestos estudantis que pediam reforma da educação. No México, estudantes pediam direitos civis e fim da repressão policial. Centenas foram mortos no “Massacre de Tlatelolco”, às vésperas da Olimpíada.
10. Depois de Edson, mais de 200 jovens foram assassinados durante a ditadura
Apenas entre as vítimas oficiais do Estado brasileiro, pelo menos 220 dos 434 mortos, “sumidos” e violentados até a morte, tinham menos de 30 anos.
30% das vítimas da ditadura não tinham ou tinham muito pouco envolvimento político, como Edson Luís.
Fonte: UBES