Eu sou a prova viva de que a educação transforma vidas. Cresci no interior do Pará, onde estudar era um desafio e, muitas vezes, um privilégio inacessível. Meu pai não tinha condições de me manter na cidade para frequentar o ensino médio regular. Se não fosse o Some, talvez eu não tivesse concluído meus estudos. Talvez minha história fosse outra.
Nosso estado é imenso e cheio de desafios. Há comunidades sem telefonia móvel, sem internet e, em alguns casos, sem energia elétrica estável. Quem conhece essa realidade sabe que o ensino mediado por tecnologia não pode substituir o Some e o Somei presencial.
O Some foi, por muitos anos, a única oportunidade real para milhares de jovens do interior concluírem o ensino médio. Ele não era apenas conteúdo, mas presença. Professores que viajavam horas para chegar às comunidades, que conheciam nossos nomes, nossas dificuldades e acreditavam no nosso potencial. O professor Adalto, a professora Vianne e a professora Oneide de Moraes foram essenciais na minha jornada. Sem eles, talvez eu não tivesse me tornado advogada ou realizado o sonho de ser vereadora.
Agora, com mudanças no Estatuto do Magistério Público e a proposta de substituição gradual do Some por ensino à distância, fica a preocupação: e os jovens que, como eu, não têm outra alternativa?
A Constituição Federal (art. 205) assegura que a educação deve garantir igualdade de condições para acesso e permanência na escola. O Plano Nacional de Educação (Lei nº 13.005/2014) também reforça a necessidade de garantir ensino de qualidade no campo. A extinção do Some presencial sem infraestrutura adequada para o ensino remoto pode violar esses princípios e representar um grande retrocesso.
Se hoje sou advogada e estive vereadora, é porque o Some existiu na minha vida. Agora, imagino quantos jovens podem perder essa oportunidade. Quantos sonhos serão interrompidos?
Por isso, faço um apelo ao governador do Estado do Pará: que olhe com mais atenção para os estudantes das comunidades ribeirinhas, da zona rural, do campo, quilombolas e indígenas. A educação não pode ser um privilégio; ela é um direito! E um direito que precisa ser garantido a todos.